A criação de um novo bloco partidário de centro na Câmara dos Deputados trouxe um novo elemento para a disputa à presidência na Casa. O grupo reúne PSL, PTB e PROS, que, juntos, somam 73 votos. Porém, com a suspensão de 12 deputados pesselistas de funções partidárias, apenas 61 estão aptos a atuar em nome do bloco. A entrada em cena dessa nova força pode decidir a eleição em primeiro turno, em fevereiro.
A união desses partidos já vinha sendo articulada há alguns meses. Nas conversas iniciais, o PSC também faria parte do grupo. A oficialização foi adiada e surgiu num momento especialmente delicado de relacionamento entre as diversas forças políticas que disputam a sucessão ao comando da Casa.
O movimento enfraquece o líder do PP e do Centrão, Arthur Lira (AL), pré-candidato à presidência da Câmara. PTB e PROS integravam o chamado Blocão, comandado por ele. A saída de ambos significa a perda de 20 votos. O grupo liderado por Lira chegou a ter cerca de 220 deputados, mas vem passando por um processo de desidratação com a perda de legendas e, no momento, contabiliza somente 135. Os integrantes atuais são PP, PL, PSD, Solidariedade e Avante. Entretanto, há divergências dentro dos partidos. Além desses, o PSC e o Patriota devem marchar com Lira.
Arthur Lira tem sido um grande aliado do governo Bolsonaro e espera contar com o apoio do Palácio do Planalto em seu projeto de presidir a Câmara. Mas seu desgaste pessoal tem contribuído para afastar aliados de outrora. A busca por protagonismo e seu estilo “trator” têm incomodado vários deputados.
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Mesmo que a metade do PSL vote incondicionalmente com o governo, bem como PTB e PROS, isso não deve influenciar a escolha sobre quem apoiar na eleição. O bloco almeja ocupar algum cargo na Mesa Diretora e tende a se alinhar com o grupo ligado ao presidente Rodrigo Maia (DEM-RJ), que antagoniza com Lira. O grupo pode ter o próprio Maia como candidato (a depender da decisão do Supremo quanto à possibilidade de reeleição), Aguinaldo Ribeiro (PP-PB) ou Baleia Rossi (MDB-SP).
Uma sinalização clara de apoio ao grupo foi dada pelo presidente do PSL, Luciano Bivar (PE), ao anunciar preferência por Elmar Nascimento (DEM-BA), aliado de Maia, à presidência da Comissão de Orçamento, a ser instalada nos próximos dias. Provavelmente, esse reforço deve estar condicionado a alguma retribuição, como o apoio na eleição de um candidato do bloco a outro cargo na direção da Casa.
Se somarmos os votos dos partidos que apoiam Maia (DEM, MDB, PSDB, Cidadania e PV), incluindo a oposição (exceto PSOL) e os do novo bloco, o total de deputados perfaz 300 votos, número superior à maioria absoluta de votos (257) necessária para que um candidato vença a eleição em primeiro turno. Faz-se necessário ponderar que, assim como se dá com Arthur Lira, deve haver dissidências nos partidos e o número total de deputados pode não se converter em votos.
Da mesma maneira, ao longo da corrida outras legendas podem vir a se agregar ao grupo e ampliar a base de apoios. É o caso do Podemos e do Novo. A adesão pode se dar, por exemplo, caso Maia não saia candidato à reeleição e paute a PEC da Prisão em Segunda Instância, visto que se trata de dois partidos lavajatistas.
*Análise Arko – Esta coluna é dedicada a notas de análise do cenário político produzidas por especialistas da Arko Advice. Tanto as avaliações como as informações exclusivas são enviadas primeiro aos assinantes. www.arkoadvice.com.br