É importante observar os principais fatores de risco que ameaçam o governo Jair Bolsonaro em decorrência da crise mundial provocada pelo novo coronavírus. São eles:
Fazer os R$ 600,00 “chegar na ponta”: o principal desafio do governo é fazer com que a ajuda emergencial no valor de R$ 600,00 “chegue na ponta”, isto é, ao bolso dos trabalhadores informais. A expectativa do governo é de que isso ocorra a partir de 10 de abril. Até lá, as cobranças sobre o governo devem seguir intensas.
Desemprego: o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) captou que o desemprego no trimestre encerrado em fevereiro atingiu 11,6%. O total de pessoas sem emprego ultrapassa 12 milhões. Como a tendência é que o desemprego cresça, o alto índice de pessoas desempregadas afetará negativamente a imagem do presidente.
Embate entre os Poderes: o debate em torno das medidas emergenciais destinadas ao combate ao coronavírus tem provocado uma disputa institucional e deixado Bolsonaro isolado, já que há uma espécie de aliança informal entre Congresso, Supremo Tribunal Federal e governadores.
Aumento da violência: caso o ambiente social fique muito deteriorado, a criminalidade pode aumentar, inclusive com saques a supermercados e farmácias, sobretudo se o nível de pobreza crescer muito.
Aumento dos casos de covid-19: grande ameaça para Bolsonaro. Hoje o medo da pandemia é o item número 1 da agenda da opinião pública, enquanto o presidente ainda evita fazer uma manifestação mais contundente a favor do isolamento social. Assim, o aumento de contaminados e de mortos pode fazer crescr o desgaste da imagem presidencial. Na última pesquisa Datafolha, a avaliação negativa do desempenho de Bolsonaro atingiu 39%. Na sondagem XP/Ipespe, a desaprovação ao governo somou 42%. O apoio ao presidente nas duas sondagens girou em torno de 30%.
MP Trabalhista: a medida provisória que possibilita às empresas negociarem com seus funcionários reduções salariais em troca da manutenção do emprego pelo período de três meses traz riscos ao governo nos campos político e jurídico. Mesmo que a medida seja economicamente justificável, a situação social no país provocará, no curto prazo, insatisfação por parte dos empregados afetados pela redução salarial. Como consequência, haverá pressões políticas e o Congresso poderá aprovar medidas para reduzir tais insatisfações. Outra ameaça reside no campo jurídico. Há advogados afirmando que o artigo 7 da Constituição estabelece que o acordo individual não é permitido nem em situação de calamidade pública e exige acordo coletivo, o que eleva o risco de esse debate acabar sendo judicializado.
Reformas em xeque: o protagonismo da pauta social cria um ambiente desfavorável ao avanço das reformas estruturais este ano. Eventuais avanços na agenda reformista não devem ser totalmente descartados, mas são improváveis, mesmo após o controle da pandemia.
Comunicação: o governo continua com dificuldade de comunicar suas ações. Na edição da MP Trabalhista, por exemplo, a equipe econômica começou perdendo a batalha da comunicação. Ao invés de focar nas medidas de compensação aos empregados que tiverem o salário reduzido, prevaleceu a narrativa construída pelos meios de comunicação sobre as consequências negativas da redução salarial. Outro exemplo de erro na comunicação é a baixa atenção que o governo continua dando ao medo do coronavírus instalado no país.
Falta de EPIs: o ministro da Saúde, Luiz Henrique Mandetta, afirmou que há estoque suficiente de equipamento de proteção individual (EPIs) para mais 20 dias apenas. A eventual falta, sobretudo de máscaras, poderá criar aumento no pânico social, principalmente entre os profissionais da saúde, que ficarão sem proteção para atender os contaminados pela covid-19.
Pressão por mudanças na regra de ouro e no teto de gastos: a necessidade do aumento do gasto público pode levar para a agenda um aumento da pressão pela flexibilização não apenas da regra de ouro, mas também do teto de gastos.
Saída de Mandetta: pesquisa Datafolha aponta que 76% dos entrevistados aprovam o desempenho do Ministério da Saúde na crise provocada pelo coronavírus, o que fortalece Luiz Henrique Mandetta a ponto de torná-lo quase “indemissível”. Bolsonaro, porém, ainda não se convenceu da necessidade do isolamento vertical, aumentando o risco de conflitos com seu ministro.