As chuvas no RS continuam gerando grande comoção e as autoridades estão trabalhando na reconstrução do estado. No campo político, porém, existe uma grande preocupação na forma como o processo será conduzido. Há um medo da politização de algumas medidas e dúvidas sobre o impacto que elas possam gerar. Um dos principais capítulos desta etapa é a indicação por parte do Governo Lula de Paulo Pimenta para liderar o Ministério Extraordinário da Reconstrução do RS. O nome não teria sido bem recebido por Eduardo Leite, governador do estado.
Mesmo com membros da base petista assegurando, inclusive, que estarão vigilantes em relação às ações do chefe da pasta, existe uma preocupação por parte de Eduardo Leite. Pimenta é um dos nomes cotados para concorrer ao Governo do Estado do Rio Grande do Sul nas eleições de 2026.
A percepção entre os aliados de Leite é de que o ministro deve apenas atuar como um suporte, auxiliando na estruturação e execução dos trabalhos. Porém, a escolha de Pimenta gerou divergências até dentro do próprio PT.
Algumas alas do partido acreditam que mesmo com um possível êxito do político na função, o ato possui uma simbologia eleitoreira, visando prepará-lo para disputar do Palácio Piratini em 2026. Além disso, eles também preveem que o perfil passional de Pimenta causará conflitos com Leite.
Chuvas no RS ainda geram divergências políticas
Nesse sentido, os dois políticos tem divergido sobre as alternativas de respostas a crise climática do estado. Nos últimos dias, o Governo Federal anunciou a ideia de construir um canal da Lagoa dos Patos.
O objetivo é aumentar a velocidade de escoamento da água da lagoa para o mar. Porém, em entrevista para o jornal O GLOBO, Leite afirmou que estudos indicam ser uma obra de “muito difícil execução”, além da interferência que poderia ocorrer na lagoa.
— Não basta pensar na água da lagoa escoando para o mar. O mar também interfere na lagoa. Se tiver água salgada acessando água doce, vai ter riscos aos ecossistemas e até a captação da água para consumo humano — disse o governador.
Já Pimenta, nesse último domingo (4), declarou discordar do projeto de cidades transitórias, idealizada por Leite, a fim de receber os desabrigados nas enchentes. Segundo o novo ministro, o RS tem cerca de 80 mil pessoas em abrigos e a cúpula federal tem “outra ideia sobre isso”.
— Surgiu agora o debate das tais cidades transitórias. A ideia seria quatro grandes cidades transitórias, com possibilidade de cada uma delas ter até 7,5 mil pessoas, isso é maior do que a grande maioria das grandes cidades do Brasil. Seriam onde a transição ocorreria. Temos outra concepção sobre isso, outra ideia sobre isso — disse Pimenta ao Canal do Barão no Youtube.
Pimenta quer agilidade
Por fim, Pimenta disse que o próximo grande desafio é a agilidade para fazer a transição entre os abrigos e as novas moradias.
— Esse é o grande debate, como o poder público oferece dignidade e condição para que as pessoas façam uma transição adequada até chegar o momento de elas voltarem a ter uma casa. E aí tem visões diferentes, concepções distintas, que vão aflorar de forma muito intensa a partir dos próximos dias.
O certo é que Pimenta mal começou no cargo e já está em rota de colisão com Eduardo Leite. Que o povo gaúcho, que sofreu tanto com os últimos acontecimentos, seja poupado da politização da tragédia.