Além da recuperação da economia e da percepção positiva dos entrevistados em torno da redução da corrupção e do aumento de melhorias na segurança pública, também o desgaste das instituições tradicionais tem contribuído para aumentar a popularidade do presidente Jair Bolsonaro.
Nesse clima de desgaste das instituições, merecem destaque os números obtidos pela pesquisa CNT/MDA da semana passada sobre a imprensa. Perguntados sobre os veículos que utilizam para obter informações, os entrevistados revelaram que as redes sociais estão apenas 8,6 pontos percentuais atrás dos veículos tradicionais (ver tabela abaixo).
VEÍCULOS | PERCENTUAIS (%) |
Veículos tradicionais de comunicação | 43 |
Nas redes sociais | 34,4 |
Nos dois | 18,4 |
Em nenhum desses meios | 3,9 |
*Fonte: CNT/MDA
A pesquisa mostra, portanto, que o desgaste dos meios de comunicação tradicionais, que concentram parte importante das críticas ao governo, acabou beneficiando Bolsonaro. E as redes sociais avançaram como fontes de informação, sobretudo por conta da expansão dos smartphones e de aplicativos como Twitter, Facebook, Instagram, WhatsApp, utilizados pelos bolsonaristas para criar pautas e se comunicar.
Outro ponto a destacar é o descrédito captado pela pesquisa em relação aos meios tradicionais de comunicação. Conforme podemos ver na tabela abaixo, sobre o grau de confiança na imprensa, a soma dos percentuais “confio poucas vezes” e “não confio nunca” (52,4%) supera a soma das menções “confio sempre” e “confio na maior parte das vezes” na imprensa (46,5%).
CONFIANÇA NA IMPRENSA | PERCENTUAIS (%) |
Confio sempre | 7,6 |
Confio na maior parte das vezes | 38,9 |
Confio poucas vezes | 40,7 |
Não confio nunca | 11,7 |
*Fonte: CNT/MDA
Tal descrédito se insere no bojo da perda de confiança em instituições tradicionais. De acordo com a CNT/MDA, as instituições mais confiáveis hoje são: bombeiros (29,1%); Igreja (25,8%); Forças Armadas (11,7%); polícia (7,1%); Justiça (5,0%); governo federal (2,7%); imprensa (2,3%); Congresso Nacional (0,3%); e partidos políticos (0,2%).
Nota-se que mecanismos clássicos de representação, como Justiça, governo federal, imprensa, Congresso e partidos, estão com sua imagem e credibilidade abaladas.
A crise das instituições tradicionais ajuda a fortalecer o bolsonarismo também porque uma das narrativas de Bolsonaro é a defesa da ruptura com o establishment. Não por acaso, apesar de todas as trapalhadas provocadas pela chamada “guerra cultural”, sua popularidade cresceu 6 pontos percentuais nos últimos seis meses.
Como consequência, a pauta crítica ao bolsonarismo construída pelo establishment não tem gerado ressonância da opinião pública: enquanto as instituições tradicionais perdem prestígio, Bolsonaro aumenta sua popularidade.