A pesquisa divulgada sexta-feira (17) pelo instituto Datafolha aponta que o presidente Jair Bolsonaro conseguiu conter a perda de apoio popular registrada no levantamento da semana anterior. A avaliação ótimo/bom passou de 33% (1 a 3/04) para 36% (17/04). A regular caiu foi de 25% para 23% e a ruim/péssimo oscilou de 39% para 38%.
Apesar da crise do coronavírus dominar a agenda e colocar o governo na defensiva, a estabilização na popularidade presidencial pode ser atribuída a chegada “na ponta” da ajuda emergencial aos setores economicamente mais fragilizados.
Neste momento há uma situação de empate técnico entre a avaliação positiva (ótimo/bom) e negativa (ruim/péssimo) do governo.
O resultado do Datafolha pode ser considerado, no limite, positivo para Bolsonaro, já que a manutenção da opinião pública dividida mostra que a estratégia do bolsonarismo em buscar a polarização permanente está funcionando para mobilizar sua base social.
Parte desta reorganização da base do presidente foi conseguida na última semana a partir dos ataques contra o ex-ministro da Saúde, Luiz Henrique Mandetta, demitido na quinta-feira (16).
Em que pese os últimos pronunciamentos de Jair Bolsonaro ter registrado um tom mais ponderado, a tática de buscar um adversário para ter atacado e mobilizar a base do presidente nas redes não deve ser abandonada.
Por isso que logo após a demissão de Mandetta, em entrevista à CNN, Bolsonaro criticou o presidente da Câmara dos Deputados, Rodrigo Maia (DEM-RJ), acusando-o de trabalhar para derrubá-lo do Palácio do Planalto.
Falas como esta contribuem para, através da narrativa anti-establishment, manter fiel cerca de 1/3 do eleitorado ao lado do presidente. Mesmo que o medo da pandemia e a crise econômica sejam fatores que mantenham o governo na defensiva, a divisão da opinião pública em três terços deve continuar.
Apesar da estratégia de Bolsonaro estar funcionando, sua avaliação positiva (36%) ainda é inferior à registrada por governadores (54%). Entretanto, quando questionados sobre o presidente tem condições de liderar o país, 52% afirma que sim. E 44% entende que não.
Mesmo politicamente mais fraco, Jair Bolsonaro possui base social para enfrentar a pandemia do coronavírus. Na travessia desta crise, Bolsonaro continuará ancorando sua narrativa na comunicação com o terço do eleitorado que não o abandona.
Apesar do presidente ter perdido popularidade em decorrência da pandemia, a base social que lhe é fiel combinada com a ausência de uma liderança que consiga capitalizar o “anti-bolsonarismo” acaba ajudando Jair Bolsonaro.
Maioria rejeita demissão de Mandetta
Segundo o Datafolha, 64% dos entrevistados entendem que o presidente Jair Bolsonaro “agiu mal” em demitir Luiz Henrique Mandetta do Ministério da Saúde. Apenas 25% avaliam que Bolsonaro “agiu bem” ao trocar Mandetta.
Questionados sobre a condução do Ministério da Saúde após a queda de Mandetta, nota-se novamente uma divisão. 36% entende que a situação “vai piorar”. E 32% acredita que “irá melhorar”.
Apesar dos ataques que Mandetta sofreu do bolsonarismo, ele deixou o governo com alta popularidade.
De acordo com o Datafolha, 70% dos entrevistados avaliam sua gestão como “ótimo/bom”. Outros 18% a classificaram como “regular”. Apenas 7% entende que a passagem de Mandetta pelo Ministério da Saúde foi “ruim/péssima”.
No episódio da demissão de Mandetta, a pesquisa sugere que o centro se uniu a oposição e posicionou-se contra o presidente. Porém, mesmo diante de um fato de tamanha impopularidade, 30% da opinião pública continuou com Bolsonaro.
Porém, a queda de Mandetta também traz riscos ao governo, principalmente se o novo ministro da Saúde, Nelson Teich, enfrentar problemas na condução da pandemia.