Como Ulysses no governo Sarney, Maia busca o protagonismo com Temer


O presidente da Câmara, Rodrigo Maia, não esperou o day after para assumir o papel de articulador dos projetos do Governo Federal. Ainda na noite de quarta, 2 de agosto, logo depois que 263 deputados congelaram a denúncia de corrupção contra o presidente Michel Temer, Maia destravava a verve contida nos dias que antecederam a decisiva votação.

Enquanto Temer comemorava o resultado no Palácio do Planalto, Maia anunciava no Salão Verde da Câmara Baixa a reforma da previdência como prioridade da base governista. Antes, porém, abriria o destampatório contra o “entorno no presidente”, o qual “nunca esperei que fosse jogar tão baixo comigo”. A entrevista ao vivo à GloboNews era a primeira de uma série.

A ela, seguiriam SBT:

E também O Globo, Folha de S. Paulo e CBN. Do mesmo modo que assumiu nova postura ao reeleger-se presidente da Câmara, ele agora busca se posicionar como timoneiro das reformas.

Para deixar claro sua força, lembrou que, diante da denúncia do procurador-geral Rodrigo Janot contra Temer, poderia “gerar uma votação muito difícil para o presidente”. Não mencionou Eduardo Cunha, seu antecessor e expoente da trupe que ajudou a destronar a ex-mandatária, Dilma Rousseff. Não era preciso.

De maneira implícita, disse que pode estar mais forte hoje do que se tivesse assumido a presidência da República no lugar de Temer. “Quem disse que eu não estou mais forte hoje do que antes?”, desafiou o deputado, primeiro da linha sucessória até dezembro de 2018.

Diferente do presidente, que fala em “reforma possível” e “atualização” das regras previdenciárias, Maia não quer fazer grandes concessões. “O texto está negociado”, assevera sobre o parecer aprovado na Comissão Especial. E “tem que votar, no máximo, em setembro”.

“Não dá pra aumentar a meta”

Num encontro no Planalto em pleno domingo, 6, Maia defendeu que o presidente mantenha a negociação da proposta de emenda constitucional (PEC) e adote uma campanha publicitária. Segundo ele, é preciso enfatizar que a reforma arruma as contas públicas e “vai em cima dos privilegiados”, preservando os direitos da maioria. Temer pareceu aquiescer.

Seu desembaraço foi avante. Desaconselhou retaliações ao PSDB, que rachou no apoio a Temer na votação de quarta, 2. Para ele, remoer o passado “não vai construir o futuro”. E os votos tucanos são imprescindíveis para alcançar os 308 mínimos necessários para aprovar a reforma da previdência na Câmara.

Enquanto a equipe econômica, inclusive seu titular, o ministro da Fazenda, Henrique Meirelles, já admite extrapolar a meta de déficit público para 2017 estipulada em R$ 139 bilhões, o presidente da Câmara se insurge contra a intenção. “Não dá pra aumentar a meta”, pois isso inviabiliza o investimento estatal no que é prioritário.

José Sarney (1985-1990) foi o improvável primeiro mandatário civil no pós-ditadura militar. Sobre seu governo pairou onipresente Ulysses Guimarães, o tríplice presidente (da Constituinte, da Câmara e do PMDB) e que era também o substituto imediato da Presidência, já que, como hoje, não havia vice.

Rumando para o final de seu governo sem lograr debelar a inflação devastadora, em entrevista a este jornalista Sarney reconheceu como um de seus erros a posição “hegemônica” que deu a Ulysses. De fato, nada de importante acontecia no Brasil naqueles tempos – quando a caserna ainda vigiava de perto os paisanos – sem o aval do paulista de Rio Claro.

A sorte de Temer é a sorte de Maia?

Michel Temer não é José Sarney, muito menos Rodrigo Maia é Ulysses Guimarães. O Brasil de hoje, embora também se depare com uma inclemente crise econômica, não é o da década de 1980. O quadro partidário era mais sólido. O hoje juiz Sergio Moro era imberbe.

Porém, assim como Sarney atravessava fragilizado os doze meses adicionais de mandato que amealhou junto ao Parlamento, Temer pode precisar se arrastar até o desfecho do mandato que negociou com os deputados. Além disso, novas denúncias e delações podem alcançá-lo em pleno exercício do poder.

Maia parece ter noção de seu tamanho quando reconhece que não tem “apoio popular” para pleitear a presidência da República ou o governo do Rio de Janeiro. Sem contar que está na mira da Operação Lava-Jato. No entanto, desde que alçou seu voo mais alto, o de presidente da Câmara Baixa, foi abrindo tramelas que o acaso lhe proporcionou.

Com trânsito em todas as siglas e diante de um presidente enfraquecido, ele parece disposto a assumir o protagonismo para conduzir a pauta governista. “O presidente deu sorte que a minha agenda econômica é igual a dele”, brincou. Se Temer tem mesmo sorte terá que dividi-la com seus aliados – Maia à frente.

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