Tem chamado a atenção nos últimos dias a redução da mobilização da militância bolsonarista nas redes sociais. Embora o presidente Jair Bolsonaro tenha sofrido derrotas importantes, sobretudo no âmbito do Supremo Tribunal Federal (STF), em outras ocasiões (por exemplo, após a operação da Polícia Federal contra blogueiros, empresários e parlamentares bolsonaristas), o clima nas redes era outro.
Essa desmobilização momentânea da militância digital bolsonarista pode ter relação com a moderação da postura de Bolsonaro, principalmente após os acordos políticos feitos com o Centrão, e também após a prisão de Fabrício Queiroz, o que acabou atingindo a imagem do senador Flávio Bolsonaro (Republicanos-RJ).
Segundo levantamento realizado pela empresa Bites, que monitora as redes, na última quinta-feira (18), após a prisão de Queiroz, os aliados do presidente conseguiram associar apenas 75 mil hashtags positivas no Twitter. A oposição, por outro lado, produziu 1,4 milhão de hashtags negativas.
Para efeito de comparação, de acordo com a Bites, no dia 15 de março, quando Bolsonaro circulou pelo comércio de Brasília, em meio ao avanço da pandemia do coronavírus, as hashtags positivas para ele geraram 1,6 milhão de post. A oposição, por sua vez, só obteve 20 mil posts.
Essa mudança de clima nas redes está ligada à conjuntura negativa que cerca o governo. A combinação de temas como o avanço das investigações no STF, as ações contra a chapa Jair Bolsonaro/Hamilton Mourão no Tribunal Superior Eleitoral (TSE), a aliança com o Centrão e, agora, a prisão de Queiroz mexe com uma bandeira muito cara ao bolsonarismo: o tema da corrupção.
Outro fato que desagradou as redes bolsonaristas nos últimos dias foi a demissão do ministro da Educação, Abraham Weintraub. Embora ele estivesse desgastado por estar sendo investigado pelo STF, devido às suas polêmicas declarações na reunião ministerial de 22 de abril, Weintraub possui grande capacidade de mobilizar as redes por meio da chamada “guerra cultural”.
Resta saber como Jair Bolsonaro fará, a partir de agora, para voltar a mobilizar suas redes sociais, já que os movimentos coordenados para alavancar hashtags no Twitter, disseminar conteúdo nas demais mídias sociais e impulsionar vídeos, mensagens e prints com viés antiestablishment através do WhatsApp não estiveram atuantes nos últimos dias.
Não será tarefa fácil, já que o presidente estará diante de um paradoxo. Ao comprar muitas brigas e perder aliados, Bolsonaro precisou fazer gestos em direção ao establishment devido aos rumos que a conjuntura política tomou. O problema é que isso produziu uma certa “desilusão” na militância digital, enfraquecendo sua capacidade de reação.
Voltar a aquecer as redes é fundamental para a reação do bolsonarismo, pois sua força política não está localizada nas instituições, e sim nas ruas.
O problema é que, ao mesmo tempo que precisa dessa base antiestablishment, que foi se fragmentando e ficando menor e mais radicalizada, o presidente está mais dependente do relacionamento institucional com o STF e o Congresso.
O risco desse paradoxo é que Jair Bolsonaro poderá perder popularidade junto à parcela do eleitorado que votou nele em 2018 não por simpatizar 100% com suas ideias, mas por rejeitar o regresso do PT ao poder e por defender o combate à corrupção – sobretudo entre os setores de classe média.
Entretanto, a base de Bolsonaro não deverá ser atingida, pois trata-se de uma militância bastante fiel ao presidente. Mesmo mantendo cerca de 20% a 30% do país a seu lado, a desmobilização nas redes sociais traz riscos.
Como parte da classe média se afastou de Bolsonaro, a imprensa está majoritariamente contra ele. Já começam a surgir movimentos antibolsonaristas – mesmo que tímidos – e não ter neste momento a militância digital mobilizada é um risco, pois se a “guerra de narrativas” for perdida, deixaria o governo refém dos acontecimentos.
E para vencer essa disputa de narrativas, Bolsonaro depende do que chama de “sua mídia”: as redes sociais.