A renúncia do presidente do Banco do Brasil, André Guilherme Brandão, na última quinta-feira (18), foi recebida pelo mercado como uma derrota sofrida pela política econômica do governo Bolsonaro. É o que avalia o cientista político e CEO da Arko Advice, Murillo de Aragão. Segundo ele, o episódio evidencia a pressão que o ministro da Economia, Paulo Guedes, tem sofrido para que consiga resultados positivos.
Brandão vinha dizendo que deixaria o banco caso continuasse sendo impedido de agir baseado na técnica. A demissão do banqueiro chegou a ser visada pelo presidente Bolsonaro após a divulgação de um plano que previa programas de desligamento voluntário e fechamento de agências. Agora, o cargo vai para um servidor de carreira, Fausto de Andrade Ribeiro.
“Paulo Guedes, em que pese ter tido boas iniciativas, não consegue organizar uma narrativa de confiança nem de esperança em um futuro melhor. A saída de André Brandão e a escolha de um funcionário de carreira, Fausto de Andrade Ribeiro, revela que Guedes sugere que ele perdeu espaço no governo”, avalia.
Ainda assim, de acordo com Aragão, a situação não coloca em xeque a presença de Guedes no governo.
Confira a entrevista completa:
A saída de André Brandão da presidência do Banco do Brasil é mais um insucesso para o ministro da Economia. Paulo Guedes está pressionado?
Sim. Mesmo tendo avanços na pauta legislativa de interesse do governo, Paulo Guedes está sob pressão para demonstrar resultados na economia. Pesquisa DataFolha divulgada hoje aumenta essa pressão porque dois em cada três brasileiros acreditam que a situação econômica vai piorar. O pessimismo demonstrado pelos brasileiros terá repercussão na popularidade de Jair Bolsonaro que, por sua vez, terá que reagir com medidas e narrativas. Paulo Guedes, em que pese ter tido boas iniciativas, não consegue organizar uma narrativa de confiança nem de esperança em um futuro melhor. A saída de André Brandão e a escolha de um funcionário de carreira, Fausto de Andrade Ribeiro, revela que Guedes sugere que ele perdeu espaço no governo.
Como a economia pode afetar Bolsonaro?
A crescente avaliação “péssimo” do governo revela a insatisfação existente. Obviamente tal realidade poderá ter consequências na campanha eleitoral. Bolsonaro, pelo seu lado, com a agressividade no trato da pandemia em uma situação de desconfiança na capacidade do governo em acelerar a vacinação tampouco ajuda a criar um ambiente de maior confiança. O governo tem dois problemas sérios: enfrentar com mais eficiência as incertezas da economia e dar a segurança de que a vacinação da COVID-19 será rapidamente acelerada. São problemas gerenciais e de narrativas. Ao governar não basta fazer a coisa certa, tem que mostrar que está fazendo.
A presença de Paulo Guedes no governo está ameaçada?
Não. Mas qualquer ministro da Economia deve ter sua carta de demissão pronta na gaveta. Em especial quando o país vive em modo crise e o governo aparenta indecisão frente a desafios tão importantes.
A derrubada de vetos no Congresso esta semana enfraquece o governo?
Jair Bolsonaro é o presidente da República da redemocratização com o maior número de vetos derrubados. Mais de 40. Alguns deles importantes e que foram derrubados contra a orientação da equipe econômica. O fato é que o Brasil de hoje trafega entre um presidencialismo de coalizão instável e um maior compartilhamento de poder com o Legislativo. A política econômica no Brasil já não é feita apenas pelo Ministério da Economia. Haja visto que Rodrigo Pacheco, presidente do Senado Federal, já anunciou a intenção de criar um novo Refis para renegociação de dívidas tributárias. Passou o tempo em que o ministro da Fazenda era o czar da economia no Brasil. O governo terá que aceitar o compartilhamento de poder mas decisões econômicas.