Após dizer que compraria as 46 milhões de doses da vacina CoronaVac do estado de São Paulo, o ministro da Saúde, Eduardo Pazuello foi desautorizado e criticado pelo presidente Jair Bolsonaro. Além disso, um dia depois do anúncio, que foi feito nesta terça-feira (20), o governo veio a público para minimizar a fala de Pazuello.
“Houve uma interpretação equivocada da fala do ministro da Saúde. Em momento algum a vacina foi aprovada pela pastas. Depende de aprovação da Anvisa”, disse Élcio Franco, secretário Executivo do Ministério da Saúde, em pronunciamento em que destacou o papel da Fiocruz no desenvolvimento da vacina de Oxford.
Franco também disse que a decisão ainda não está tomada, mas não descartou a possibilidade de que a CoronaVac seja comprada e incluída no Programa Nacional de Vacinação (PNI). “Não houve qualquer compromisso com o governo de SP ou seu governador. Tratou-se de uma declaração de intenções com o instituto Butantan, sem efeito vinculante”, disse.
A inclusão da CoronaVac no PNI havia sido anunciada nesta terça-feira (20) depois que os 27 governadores se reuniram com Pazuello para pedir que a vacina chinesa não fosse ignorada pelo governo.
Isso porque, na segunda-feira (19) o Governo de São Paulo anunciou os resultados do teste de segurança da vacina, que indicavam que ela é a mais segura entre todas que estão sendo testadas.
Vacina brasileira
Ao não descartar a possibilidade de compra da vacina desenvolvida em São Paulo, o pronunciamento do Ministério da Saúde tentou desvincular a imagem do medicamento de sua origem chinesa.
Franco deu a entender que, se for aprovada pelos órgãos regulatórios do Brasil e produzida pelo Butantan, a CoronaVac será uma “vacina brasileira” e que pode ser adotada “caso fique disponível antes das outras possibilidades”.
“Qualquer vacina quando estiver disponível, quando for aprovada pela Anvisa e adquirida pelo Ministério da Saúde poderá ser incluída no PNI”, disse.
“E no que depender dessa pasta, não será obrigatória”, concluiu Franco. A fala mantém quente a disputa entre o governo federal e os governos estaduais para decidir se a vacinação contra a covid-19 será obrigatória.
Falas de Bolsonaro
Nas redes sociais, o presidente respondeu comentários de apoiadores que pediam que a vacina não fosse comprada. Em resposta à um internauta que sugeria a exoneração de Pazuello, o presidente disse que “tudo será esclarecido ainda hoje” e acrescentou, em caixa alta: “NÃO COMPRAREMOS A VACINA DA CHINA”.
Dois fatores incomodam Bolsonaro: que a vacina seja desenvolvida por uma empresa chinesa, a Sinovac, e que o Brasil participe do desenvolvimento do medicamento por iniciativa do governo de São Paulo. “Meu governo não mantém diálogo com João Doria sobre covid-19”, disse em rede social.
Pazuello ameaçado?
Bolsonaro já mostrou que não tolera discordância quando o assunto é combate à Covid-19. Por esse motivo, o Ministério da Saúde já teve o chefe trocado duas vezes. Também em comentário nas redes sociais, Bolsonaro endossou comentários que incriminavam Pazuello e chegou a dizer que a atitude era uma “traição”.
Mais tarde, o presidente publicou no Facebook reafirmando que não comprará a vacina.