O deputado federal Guilherme Boulos (PSOL-SP) e a ex-prefeita Marta Suplicy (Sem partido) se reuniram no último sábado (13), dando início a construção do acordo que deve resultar numa aliança eleitoral. Até o início de fevereiro, Marta deverá se filiar ao PT e ser a vice de Boulos.
Ao final da conversa, Boulos afirmou que o próximo passo é a construção de uma frente ampla na capital paulista para derrotar o bolsonarismo, numa referência ao apoio do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) ao prefeito de SP e pré-candidato à reeleição, Ricardo Nunes (MDB).
O pré-candidato do PSOL declarou que a aliança com Marta “não vai olhar para o passado”. Ela se constrói a partir de um compromisso de presente e de futuro”. De acordo com Guilherme Boulos, as críticas trocadas com Marta Suplicy no passado e as diferenças políticas mostram que a aliança de fato amplia o alcance político e eleitoral da chapa.
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Boulos também declarou que Marta agrega experiência administrativa e amplitude para a frente democrática que ele está construindo.
Após a conversa com Boulos, Marta não realizou manifestações à imprensa. Nas redes sociais, reproduziu um manifesto defendendo a formação de uma frente ampla, que foi lançada em setembro de 2019 durante o governo Bolsonaro.
O manifesto citado por Marta Suplicy diz que ser a hora “de nos unirmos para construirmos a mais ampla frente política e social para o progresso e o desenvolvimento da cidade”, “convocar a todos para o esforço de uma grande mobilização pela democracia”, “a favor do progresso, desenvolvimento e respeito pela diversidade” e “reafirmar nossa índole democrática, pluralista e igualitária”.
Marta, que até pouco dias era secretária municipal de Relações Institucionais da Prefeitura, argumenta que a aproximação de Nunes com Bolsonaro levou a ex-prefeita a mudar seu posicionamento.
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Embora Marta tenha sua trajetória política ligada ao campo de centro-esquerda, ela poderá ajudar Boulos na periferia, onde é lembrada por programas de sua gestão como os Centros Educacionais Unificados (CEU) e a implantação dos corredores de ônibus e do Bilhete Único.
Apesar da conversa entre Guilherme Boulos e Marta Suplicy ter sido positiva, o deputado estadual Eduardo Suplicy (PT), ex-marido de Marta, se lançou na semana passada como pré-candidato a vice de Boulos. Apesar do movimento do deputado, a tendência é que a vaga de vice fique com Marta, pois ela conta com o apoio do presidente Lula (PT).
Guardadas as devidas proporções, a aliança Boulos-Marta busca reeditar a ideia da Frente Ampla que viabilizou a chapa entre Lula e o vice-presidente Geraldo Alckmin (PSB) nas eleições de 2022. Apesar de Alckmin estar mais ao centro do que Marta, a composição com a ex-prefeita representa a amplitude possível para Boulos, já que atrair partidos mais ao centro é improvável, pois a maioria dessas legendas integram a base de Ricardo Nunes e devem apoiá-lo em outubro.
Marta Suplicy carrega em sua trajetória divergências com o PT. Ela deixou o partido em 2015. E votou a favor do impeachment da ex-presidente Dilma Rousseff (PT). Por mais paradoxal que possa parecer, Marta, mesmo se filiando a sigla, funcionará como um contraponto aos setores mais ortodoxos da esquerda.
Mais do que isso, a chapa Boulos-Marta empurra Ricardo Nunes para a direita. Vale recordar que nas eleições de 2020, Marta apoiou o então prefeito Bruno Covas (PSDB) na disputa contra Boulos. Assim, ao atrair Marta para o lado de Boulos, uma peça importante, que antes era aliada de Nunes, foi conquistada por Boulos.
Além da experiência de já ter sido prefeita, Marta Suplicy ainda conserva um importante capital eleitoral em SP. Marta foi quatro vezes candidata à Prefeitura de SP. Três pelo PT (2000, 2004 e 2008) e uma pelo PMDB (2016). Foi vitoriosa em 2000, quando derrotou Paulo Maluf (PPB). Naquela eleição, Marta teve 34,40% dos votos válidos no primeiro turno, e 58,51% no segundo turno. Nas outras três disputas, foi derrotada. Em 2004, quando tentava a reeleição, perdeu para José Serra (PSDB). Marta conquistou 35,82% dos votos válidos no primeiro turno, e 45,12% no segundo turno.
No pleito de 2008, Marta perdeu novamente. Desafiou o então prefeito Gilberto Kassab (DEM), que tentava a reeleição. Marta teve 32,79% dos votos válidos no primeiro turno, e 39,28% no segundo turno. Em 2016, Marta Suplicy foi novamente candidata, desta vez pelo PMDB. Marta conquistou apenas 10,14% dos votos válidos, ficando em quarto lugar no primeiro turno.
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Nas eleições de 2020, Guilherme Boulos (PSOL) conquistou 20,24% dos votos válidos no primeiro turno, e 40,62% no segundo turno.
Em relação a 2020, Boulos sinaliza uma ampliação na política de alianças. Em 2020, sua parceira de chapa foi a ex-prefeita Luiza Erundina (PSOL). Ou seja, Boulos teve uma composição de “chapa-pura”. Na disputa deste ano, Boulos deve ter Marta Suplicy, que se filiará ao PT, como sua vice. O mesmo ocorre com o arco de alianças. Em 2020, a coligação Boulos-Erundina era composta por PSOL, PCB e UP. Em outubro, a futura composição Boulos-Marta deve unir PSOL, PT, PCdoB, PV, REDE, PDT e UP.
Embora a aliança com Marta Suplicy esteja dentro do arco de centro-esquerda, ela cumpre um objetivo estratégico importante, pois empurra Nunes para a direita e ajuda na estratégia traçada de nacionalizar o pleito em SP.