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Quando a crise pode educar

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No turbilhão da crise econômica, o setor elétrico vive momento delicado. A falta de chuvas e de planejamento impuseram aumento da tarifa de energia elétrica e elevaram o risco de racionamento de energia. Essa receita perversa afetou o caixa das Distribuidoras e Geradoras de energia, causando enormes prejuízos e insegurança para os investidores.

Enquanto os empresários lutam na justiça e no Congresso Nacional para garantir que não arquem com mais de 5% do risco hidrológico, os consumidores de energia estão pagando a conta pelo baixo nível dos reservatórios e pelo acionamento das usinas térmicas, mais caras e poluentes.

A despeito deste debate e para transformar a crise numa oportunidade, existe uma medida simples, que pode beneficiar o governo, as indústrias, a população, o meio ambiente, enfim, toda a sociedade. Trata-se da eficiência energética.

Estimular o consumo consciente é um hábito de civilidade, uma medida que deveria ser cultivada mesmo que não haja crise. Para um sistema de energia complexo como o nosso, que gera basicamente energia de hidrelétricas e que usa as usinas térmicas como “seguro” em caso de necessidade, o uso racional representa um importante aliado na segurança energética.

A crise econômica trouxe redução no consumo de energia e aliviou o risco imediato de racionamento. A dependência das chuvas faz o setor elétrico ser refém de São Pedro. Todo ano esperando que o santo “ligue” as torneiras para que ao final do período chuvoso os reservatórios estejam cheios. Não é o que tem acontecido. Com pouca chuva e sem planejamento, o setor se vê numa crise sem precedentes. As empresas não são mais autossustentáveis e dependem de medidas do governo para fechar as contas.

Após o apagão de 2001, criou-se um mecanismo para a construção de usinas térmicas. O objetivo era evitar que o baixo nível dos reservatórios, em tempos de pouca chuva, trouxesse de novo o fantasma do apagão. Com o passar dos anos, sem a construção de hidrelétricas com reservatórios e com a diminuição das chuvas, o governo não enfrentou blecautes, mas foi obrigado a ligar todas as térmicas, usinas mais caras e poluentes. O resultado foi aumento de tarifa e estresse do sistema.

Com todo esse imbróglio e sem medidas possíveis no curto prazo, a única solução é usar a eficiência energética como forma de aliviar o sistema e mostrar para a sociedade que ela tem o poder de fugir dos aumentos de tarifa, basta reduzir o próprio consumo.

O Ministério de Minas e Energia já tem pronto o Plano Nacional de Eficiência Energética. Aliado a uma campanha consistente do uso racional da energia, pode ser o começo de uma política que inclua a sociedade e organizações com interesse comum.

Desperdiçar energia também encarece a tarifa. Tratar do tema abertamente é se antecipar a crises. Eficiência energética deveria ser uma política de governo, prioridade do Estado. Enquanto não for, cada vez que chover menos que o necessário e o consumo de energia estiver em alta, o brasileiro vai viver com medo do apagão.

 

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