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Cunha retalia Dilma e desarranja a política

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O presidente da Câmara, Eduardo Cunha, aceitou o pedido de impeachment da presidente Dilma Rousseff por duas razões: criar um fato político de impacto superior à perda dos votos que o governo lhe prometera no Conselho de Ética e atrair a simpatia da população que reprova sua atuação política numa escala tão alta quanto a rejeição da presidente Dilma Rousseff, a mais impopular da história do Brasil.

O gesto funciona como a única alternativa para tentar salvar o mandato com os votos da oposição, de quem se reaproximou nos últimos dias, depois que começou a desconfiar que seria traído pelo PT. Cunha tem a esperança de construir uma maioria a seu favor quando o processo de cassação chegar ao plenário, pois são praticamente nulas as chances de vitória na comissão.

Segundo um balanço feito por aliados do próprio presidente da Câmara, mesmo no plenário seu cacife seria baixo. Tal certeza explicaria escolha tão contundente, uma retaliação desproporcional, exceto para quem tem a convicção de que chegou ao fim da linha. Seria a típica solução “cair atirando”, que combina com a imagem de personalidade explosiva, vingativa.

Uma pequena demonstração desse perfil já viera a público no primeiro semestre, quando Cunha adotou o discurso de rompimento com o governo. Guiou-se, então, pela estratégia da pauta-bomba e passou a usar toda sorte de chantagem política contra uma presidente praticamente destituída de seus mínimos poderes.

Na volta do recesso, foi atingido em cheio por denúncias de que mantém contas na Suiça, reforçando as suspeitas de que seja um dos maiores beneficiários das propinas da Petrobras. A imagem do jogador profissional, calculista, audacioso foi sendo substituída por outra, de descuidado, fanfarrão, capaz de cometer erros incompreensíveis até mesmo para um amador.

A partir daí equilibrou-se entre governo e oposição por meio de um comportamento permanente ambíguo. Ora dava a entender ao Palácio do Planalto que era uma garantia contra o ímpeto oposicionista de livrar-se de Dilma, ora combinava com os oposicionistas que abriria caminho no assalto à cidadela palaciana. Moeda de troca: o impeachment. Cunha esticou a corda até onde pode. Nesta quarta-feira chegou a hora da decisão.

Esbarrou na ansiedade do PT. Depois da prisão do senador Delcídio do Amaral, o partido fragilizou-se ainda mais, diante da perspectiva de ser varrido do mapa nas eleições municipais do ano que vem e passou a ver algo inimaginável na política brasileira a menos de um ano – Lula atingido por um vendaval de desgastes tão intenso que o risco de prisão deixou de ser uma hipótese.

Os petistas não vislumbraram outra saída a não ser jogar Cunha ao mar. Mortalmente ferido pela retirada dos três votos petistas que o mantinham respirando, o deputado carioca resolveu tirar o pino da granada.

Presidente da Câmara, Eduardo Cunha, aceita pedido de impeachment de Dilma Roussef

Presidente da Câmara, Eduardo Cunha, aceita pedido de impeachment de Dilma Roussef

Quais as consequências e desdobramentos da aceitação do pedido de impeachment para Cunha, Dilma e para o Brasil?

  1. Desarranja o esforço até certo modo premiado do governo para encaminhar rumo a votação a maioria das medidas do ajuste ainda pendentes;
  2. Torna inevitável a convocação extraordinária do Congresso para trabalhar na complexa tramitação do impeachment;
  3. Agrega nova onda de incerteza ao cenário econômico, pois o mercado passa a temer os obstáculos à aprovação do Orçamento de 2016;
  4. Aumenta a dependência do governo do PMDB e especialmente do presidente do Senado, Renan Calheiros, cujos votos são essenciais para impedir o afastamento da presidente;
  5. Obriga a presidente a lançar mão de nova reforma ministerial, como forma de pescar ainda mais fundo no baixo clero, onde estão os votos que menor segurança proporciona aos articuladores do Planalto
  6. Deixa o governo ainda mais exposto aos humores do Ministério Público e da Polícia Federal, que podem surpreender com novos pedidos de prisão de políticos;
  7. Força a presidente a uma polarização com Eduardo Cunha, obrigatoriamente calcada em mensagens marqueteiras;
  8. Expõe a presidente aos grupos de manifestantes de rua, que nos últimos meses haviam perdido força mobilizadora.

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