Projeções do índice Icomex, da FGV, dão conta que o cálculo sobre o impacto no PIB brasileiro em 2020 aponta que o consumo doméstico na Argentina deve cair 4,5% neste ano e que o volume das exportações brasileiras para o país também diminuirá, em média, 9%. Isso não levando em consideração a nova regra para as importações. Com a baixa base de comparação, percebe-se um decréscimo nas vendas inferior aos 32% de 2019 e aos 16% do ano passado. Desse modo, 2020 será o terceiro ano consecutivo no qual a crise argentina impacta com efeitos negativos a atividade no Brasil.
A crise argentina, segundo estudo realizado em setembro do ano passado, eliminou 0,2 ponto percentual do PIB em 2018 e outro 0,50 ponto em 2019. Já em 2018, o impacto permanece em -0,2 ponto, após a atualização por intermédio da revisão das Contas Nacionais Trimestrais pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) e a divulgação do resultado da balança comercial de 2019, quando o PIB aumentou 1,3%.
Em 2019, a atualização foi de 05 para 0,55 ponto. Na análise do Ibre-FGV, o aumento estimado para 2019 é de 1,2%. Embora a previsão fosse de recuo de 27%, o resultado efetivo chegou a menos 32%. Os números identificados de 2018 a 2020 foram calculados com base no reflexo da queda das exportações para a Argentina ante o valor adicionado da indústria de transformação e dos segmentos de transportes e comércio – com influência parcial da atividade manufatureira. Some-se a isso o cálculo relacionado ao efeito ante o recolhimento de impostos.
Quanto aos produtos industriais, nota-se que eles representam aproximadamente 90% das vendas do Brasil para o país vizinho, considerado o quarto maior mercado para os produtos brasileiros de qualquer espécie, atrás apenas de China, Estados Unidos e Holanda. Os insumos industriais correspondem, em 2019, a cerca de 35% do que o Brasil exportou para a Argentina: 22% peças e equipamentos de transporte e 19,8%, automóveis – que correspondiam a 27% das exportações em 2017.
Ainda de acordo com o IBGE, a produção de intermediários – responsável por 60% do que a indústria fabrica – sofreu uma queda de 2,2% no ano passado, graças, sobretudo, ao desastre de Brumadinho (Minas Gerais) e à retração na Argentina.
Ao todo, a produção industrial do Brasil teve uma retração de 1,1% no ano passado, mesmo com o incremento apresentado nos dois anos anteriores. A redução do comércio com a Argentina e com o resto do mundo amenizou os efeitos do aquecimento da demanda doméstica, principalmente no final de 2019. Percebe-se também que existe uma integração relevante entre as cadeias produtivas argentina e brasileira no setor manufatureiro.
Em razão da importância da Argentina, o valor adicionado da indústria de transformação poderia ter subido 2,2% em 2019, frente à estabilidade na comparação com 2018. Para este ano, a expectativa é de crescimento de 1,3%. Ressalte-se que caso não houvesse o efeito Argentina, a expansão poderia atingir os 2,7%.