Na semana passada, Brasília sediou a 11ª Reunião de Cúpula do Brics, bloco que reúne cinco países com mercado emergente: Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul. O evento foi precedido pelo Encontro Empresarial, que contou com a participação de mais de 500 empresários dos cinco países. As análises que antecederam a Reunião de Cúpula davam como certo o seu fracasso, por conta das divergências políticas entre seus líderes. O que se viu, contudo, foi o pragmatismo surpreendendo. O anfitrião, o presidente Jair Bolsonaro, encaixou agendas bilaterais no programa conjunto e conseguiu distensionar o ambiente em prol do fortalecimento do bloco. O Brics saiu mais forte, reconhecem diplomatas e empresários. Além disso, a prioridade conferida pelos membros do Brics ao seu banco, o Novo Banco de Desenvolvimento (NBD), foi expressada pelos ministros Paulo Guedes, da Economia, e Tarcísio Gomes de Freitas, da Infraestrutura. Apesar de o Brasil não ter ratificado o acordo que cria o Escritório Regional das Américas, que terá sede em São Paulo, os dois ministros conseguiram demonstrar que o Brics ganha fôlego no governo brasileiro. Era o que os presidentes da Rússia, Vladimir Putin, e da China, e Xi Jinping, queriam ouvir. A “Declaração de Brasília”, com 73 pontos, aborda desde questões climáticas, fortalecimento da agricultura sustentável e fomento da cultura até temas políticos espinhosos, como a necessária reforma do sistema multilateral internacional. Os países do Brics focaram no que une e deixaram de lado o que divide. Esta pode não ter sido a estratégia ideal, mas decerto foi a mais inteligente neste momento. O Brics concentra uma população de cerca de 3,1 bilhões de pessoas, o que equivale a aproximadamente 41% da população mundial, respondendo por 18% do comércio internacional. Ao cobrar mudanças importantes na Organização das Nações Unidas (ONU), na Organização Mundial do Comércio (OMC) e no Fundo Monetário Internacional (FMI), reitera a sua potência, baseada na unidade desses que são os principais países emergentes. Para o setor privado, o encontro foi extremamente positivo. O empresariado, que manteve um diálogo direto e objetivo com os líderes do bloco, entregou-lhes um documento com 23 propostas que pretendem facilitar o comércio, fortalecer o NBD com investimentos em energia limpa em países fronteiriços ao bloco, desenvolver competências profissionais e firmar acordos de cooperação em dez setores, entre os quais indústria 4.0, biotecnologia e infraestrutura. Bolsonaro acertou ao priorizar essa agenda e deixar em segundo plano as questões de caráter ideológico. Ao que parece, o governo brasileiro vai decantando e percebendo que as diferenças podem, sim, serem positivas. Por fim, o anúncio de que o Brasil poderá iniciar negociações para um Tratado de Livre Comércio com a China foi visto como um recado enviado diretamente para os Estados Unidos. Até o momento, o alinhamento com Washington não produziu nenhum resultado positivo para o Brasil. Os Estados Unidos seguirão sendo um farol para o governo brasileiro? Bolsonaro já havia retornado da Ásia, em outubro, encantado com a forma como os chineses e japoneses trabalham. A Reunião de Cúpula do Brics e o tratamento dispensado ao presidente brasileiro pelos demais líderes poderão influir fortemente na percepção de Bolsonaro, tornando a política externa nacional mais pragmática. |
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