Neste domingo (20), a Bolívia inaugura um período-chave para o processo de integração regional e, especialmente, para as relações do Brasil com alguns de seus principais vizinhos. Depois de perder um referendo, o presidente Evo Morales manobrou e, com o apoio do Tribunal Supremo, conseguiu manter sua candidatura. Ele busca um quarto mandato consecutivo.
As pesquisas mais recentes mostram que o líder cocaleiro já não é imbatível, como no passado recente. No entanto, desnudam também uma oposição pouco articulada para pôr fim a um regime que busca perpetuar-se, a exemplo da Venezuela de Nicolás Maduro.
Para o Brasil, as eleições na Bolívia são estratégicas. Este ano, os dois países têm de renegociar o acordo do gás. Sabendo disso, Morales baixou o tom e fez questão de prestigiar a posse do presidente Jair Bolsonaro no Brasil. O líder boliviano também depende apenas do Brasil para ver o seu país como membro pleno do Mercosul. O Protocolo de Adesão da Bolívia está pronto para ser deliberado pela Câmara dos Deputados, mas o Itamaraty solicitou que a matéria fosse engavetada até a conclusão do processo eleitoral no país.
Outra pauta prioritária para a Bolívia diz respeito ao Corredor Ferroviário Central, uma obra de US$ 10 bilhões que pretende ligar o Porto de Santos, em São Paulo, ao Porto de Ilo, no Peru, cortando o território boliviano. O Brasil de Bolsonaro, contudo, é mais simpático ao projeto chileno que aproveita a totalidade da hidrovia Paraná-Paraguai até chegar a Antofagasta, também no Pacífico.
Hoje, toda a agenda com a Bolívia está congelada, à espera de uma definição das urnas. Bolsonaro não emitiu nenhuma declaração, mas o governo brasileiro torce pela eleição de Carlos Mesa.
Em 27 de outubro, Argentina e Uruguai irão às urnas em situações distintas. Na Argentina, a possibilidade de reeleição de Mauricio Macri é mínima. Alberto Fernández deve eleger-se já no primeiro turno e tomar posse em 10 de dezembro. Caso haja uma zebra, haverá segundo turno em 24 de novembro.
A situação econômica na Argentina é gravíssima, o presidente está fraco e o kirchnrismo deve voltar forte. Mas a questão argentina eclodirá, de fato, após as eleições. Tudo indica que haverá uma transição duríssima não apenas no plano interno, mas também externo, por exemplo, com o FMI. O país necessita desesperadamente de dólares, de investimentos, de renegociação de sua dívida.
É bem possível que Bolívia e Argentina, sabedores da importância que têm, juntos, para a economia regional, adotem posturas pragmáticas no relacionamento bilateral. No âmbito do Mercosul, os problemas poderão se agravar, uma vez que há discordâncias importantes quanto ao funcionamento do bloco. Além disso, Fernández promete retirar o país do Grupo de Lima e focar sua política externa na Venezuela e no Grupo de Contato que reúne México, Uruguai e União Europeia.
Também em 27 de outubro os uruguaios irão às urnas para decidir se a Frente Ampla, há 15 anos no poder, se mantém no posto. Para o Brasil, interessa a vitória da direita, embora a esquerda uruguaia seja vista como moderada em comparação com as demais da região.
O Uruguai quer um Mercosul forte e capaz de firmar mais acordos de livre comércio, algo que, de certa forma, une direita e esquerda. No âmbito regional, as divergências se dão também por conta da situação na Venezuela. Mas, hoje, Montevidéu já não respalda o regime de Maduro como no passado.