A reunião ministerial realizada ontem, quinta-feira, no Palácio do Planalto deixou explícitos no primeiro escalão do governo as dificuldades que a gestão Lula enfrenta no Legislativo. O tema permeou boa parte do encontro, que durou cerca de nove horas.
“Se vocês não resolverem, eu vou ter de resolver”, disse Lula ao cobrar empenho dos ministros para conter a crise com o Centrão. Segundo ele, a determinação do núcleo do governo sobre liberação de cargos e emendas parlamentares precisa ser cumprida, sob pena de a turbulência política se agravar.
Na fala de abertura da reunião, Lula voltou a dizer que “novas ideias” estão “proibidas” e que o governo tem de cumprir o que prometeu. Ele pediu que os auxiliares dissessem o que já foi feito em suas pastas nos quase seis meses de governo.
A reunião ministerial teve como pontos principais a cobrança feita aos colegas pelo ministro das Relações Institucionais, Alexandre Padilha, em razão dos problemas na relação do governo com o Congresso. Disse que há uma lista de 400 cargos que não foram preenchidos.
Durante uma fala do ministro da Fazenda, Fernando Haddad, o presidente Lula comentou com o vice-presidente e ministro da Indústria e Comércio, Geraldo Alckmin, que o programa de incentivo ao carro popular deve ser prorrogado porque está “sendo um sucesso”.
A ministra do Meio Ambiente, Marina Silva, não participou da reunião. Ela foi internada em São Paulo com fortes dores na coluna. Sua colega do Turismo, Daniela Carneiro, que deve deixar a pasta, reclamou da falta de recursos.
Em seis meses da nova legislatura no Congresso, o presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), transformou o chefe do Executivo no refém mais pressionado da Praça dos Três Poderes, além de desafiar o próprio Palácio do Planalto.
Lula não consegue aprovar nenhum projeto de lei se não tiver votos do Centrão, grupo de partidos controlado por Lira. Desde 1988, quando Ulysses Guimarães liderou a Assembleia Nacional Constituinte, nenhum presidente da Câmara dos Deputados desfrutou de tanto poder quanto Lira.