Dados divulgados ontem (16) pela Fundação Getúlio Vargas (FGV) apontam que as exportações brasileiras para os Estados Unidos aumentaram 9,5% em agosto deste ano, ao comparar com o mesmo período do ano passado; e as importações de produtos daquele país subiram 27,9%. Por outro lado, as vendas para os outros parceiros comerciais importantes do Brasil registraram queda significativa: Argentina (-38,9%), China (-17,1%) e União Europeia (-7%).
Em uma análise geral, levando-se em consideração todos os países, a corrente de comércio do Brasil – soma das exportações e importações – diminuiu 15% entre agosto do último ano e agosto de 2019. Já nos valores exportados pelo Brasil – volume de exportação mais o preço cobrado por esses produtos e serviços – nota-se uma queda de 13%; e no valor dos importados, decréscimo de 17%.
A FGV explica esse cenário com base na desaceleração no comércio mundial e no baixo nível da atividade brasileira. No que diz respeito ao volume, as exportações e importações sofreram a mesma baixa (-13%), porém, os preços dos bens importados caíram mais do que os preços dos exportados. Em agosto, todos os setores registraram baixa no volume exportado, em especial a indústria de transformação.
Desse modo, o governo do presidente Jair Bolsonaro deve finalizar o seu primeiro ano com uma série de resultados negativos no comércio exterior, com baixas significativas nas exportações, importações e no saldo comercial. Na avaliação do presidente da Associação de Comércio Exterior do Brasil (AEB), José Augusto de Castro, isso representará um “superávit triplamente negativo” e com uma corrente de comércio provavelmente inferior a US$ 400 milhões e nada próximo ao recorde histórico de US$ 482 bilhões, acumulado em 2011.
Dados da AEB sobre a revisão da balança comercial para 2019 indicam este ano com exportações de US$ 223,757 bilhões, ou seja, queda de 6,7% ante 2018; e importações de US$ 171,509 bilhões com contração de 5,4% e superávit comercial “negativo” de US$ 52,248 bilhões com decréscimo de 10,9%. Portanto, o superávit comercial a ser atingido no Brasil neste será triplamente negativo em razão da baixa nas exportações, importações e no superávit.
De acordo com a AEB, há vários fatores que reforçam os resultados tímidos que o Brasil deve conseguir este ano no comércio exterior: 1) guerra comercial entre Estados Unidos e China e indiretamente com a União Europeia; 2) crise nuclear entre os EUA e o Irã; 3) peste suína na China, impactando nas negociações de soja e de carnes; 4) rompimento da barragem de Brumadinho e reflexos em minérios de ferro; 5) menor crescimento do PIB da China; 6) acirramento da crise econômica na Argentina; e 7) o chamado “Custo Brasil”.
Com relação a esse último fator, o presidente da AEB alerta que o Brasil deve olhar para fora e, por isso, é essencial que as reformas tributária e da Previdência sejam bem-sucedidas e que os investimentos em infraestrutura ganhem força. Castro assegura ainda que, com o êxito das reformas, o Brasil será um novo país, porém, os resultados no comércio exterior apenas serão sentidos em um prazo não inferior a dois anos.