O presidente do Banco Central (BC), Roberto Campos Neto, fez declarações sobre os riscos da intervenção governamental para impulsionar o crescimento econômico, nesta sexta-feira (28). Em sua participação no painel “Integração Global e Blocos Econômicos” do 12º Fórum de Lisboa, Campos Neto alertou que o uso excessivo de investimento público pode levar à ineficiência econômica.
Campos Neto destacou que a tentativa de promover o crescimento através da intervenção governamental e do investimento público pode resultar em um ciclo vicioso. “O problema de quando o setor público está muito grande no mercado é tirar a informação do preço”, afirmou. Segundo ele, essa prática frequentemente resulta em pressão política que impede a maximização da eficiência econômica.
Após deixar o auditório, Campos Neto esclareceu a jornalistas que observações não eram especificamente sobre o Brasil, mas uma análise geral. Ele enfatizou a necessidade de mercados operarem de forma mais livre, destacando que a intervenção pública excessiva distorce a alocação de recursos.
Banco Central “mais livre”
O presidente do BC também abordou os desafios econômicos no cenário pós-pandemia, particularmente a interação entre inflação e políticas fiscais. Ele alertou que governos podem cair na tentação de aceitar uma inflação ligeiramente maior para aliviar pressões fiscais, já que a arrecadação é nominal. No entanto, isso pode desencadear um ciclo vicioso de aumento de programas sociais, maior gasto público e mais inflação.
“A inflação maior gera maior desigualdade, e para contra-atacar isso, o governo aumenta programas sociais, entrando em uma espiral de gastos crescentes e inflação”, explicou Campos Neto. Ele enfatizou que essa dinâmica pode levar a uma situação insustentável em que o governo não consegue mais controlar o ciclo.
Campos Neto também discutiu os efeitos das taxas de juros altas, explicando que elas trazem a dívida para o curto prazo, o que, por sua vez, impacta negativamente o investimento, especialmente os de longo prazo. “O governo acaba tentando buscar investimentos com juros subsidiados, o que cria um ciclo vicioso de dívida versus crescimento”, disse.
Por fim, ao discutir a relação entre dívida e impostos, Campos Neto destacou que muitos países, incluindo o Brasil, têm sistemas rígidos para cortes de gastos. “Ajustar 100% pelo lado da receita quebra relações tributárias”, alertou, mencionando o risco de insegurança jurídica.