O cenário econômico, principalmente o crescimento da inflação, tem prejudicado o presidente Jair Bolsonaro (PL) nas pesquisas de intenção de voto e beneficiado o ex-presidente Lula (PT). No entanto, não é apenas a economia que explica a desvantagem de Bolsonaro na sucessão.
Se compararmos a segmentação das intenções de voto na disputa pela Presidência por renda na véspera do primeiro turno das eleições de 2018 apuradas pelo instituto Datafolha, quando o cenário era favorável a Bolsonaro, com sondagens do instituto divulgadas na semana passada podemos analisar a questão com maior precisão.
Em 2018, no segmento com renda mensal de até 2 salários o então candidato Fernando Haddad (PT) superou Jair Bolsonaro por 29% a 25%. Nesse público, o ex-ministro Ciro Gomes (PDT) tinha 12%. Agora, nessa faixa de renda, Lula lidera com 56%. Bolsonaro registra 20%. E Ciro soma apenas 5%. Conforme podemos observar, a vitória de Haddad sobre Bolsonaro por apenas 4 pontos em 2018 se transformou hoje numa vantagem de 36 pontos de Lula sobre Bolsonaro.
Na faixa de renda de mais de 2 a 5 salários, Bolsonaro venceu Haddad por 41% a 19%. E Ciro ficou com 14%. Hoje, nesse segmento, Lula lidera com 41%. Bolsonaro aparece com 34%. E Ciro contabiliza 8%. Nesse segmento também se percebe o peso da economia, já que Lula, comparado com Haddad em 2018, dobrou a intenção de votos do PT. Bolsonaro, por sua vez, perdeu 7 pontos.
Entre quem possui renda mensal de mais de 5 a 10 salários, Bolsonaro venceu Haddad por 51% a 14%. E Ciro conquistou 14% em 2018. Agora, Lula e Bolsonaro aparecem com 37% das intenções de voto e Ciro soma 11%. Nessa faixa de renda, Bolsonaro perdeu 14 pontos em relação a 2018; e Lula conseguiu 23 pontos a mais que o obtido por Haddad.
Já entre quem ganha acima de 10 salários, Bolsonaro venceu Haddad por 55% a 12%. E Ciro obteve 15% em 2018. No atual cenário, Bolsonaro vence Lula por 42% a 31%. E Ciro aparece com 7%. Em relação a 2018, Bolsonaro perdeu 13 pontos, enquanto Lula subiu 30 pontos quando comparamos seu desempenho ao de Haddad.
Como Jair Bolsonaro perdeu pontos em todos os segmentos de renda – mesmo entre aqueles com renda mensal mais alta –, há sinais de que não é apenas a economia que explica o atual cenário. É possível que a recente aposta de Bolsonaro em tensionar o embate institucional, principalmente confrontando o Supremo Tribunal Federal (STF), pode ter afastado parte do eleitor de centro que em 2018 preferiu votar nele a votar no PT.