Oposição, adversários políticos e líderes de movimentos sociais apresentaram mais um pedido de impedimento contra o presidente Jair Bolsonaro. 120 pedidos foram reunidos em um só, com mais de 20 tipos de acusações. O pedido foi classificado de “superpedido de impeachment”.
Já disse, neste espaço, que um impeachment tem uma fórmula: a) precisa de um motivo; b) depende de apoio político; e c) precisa de mobilização popular. O fator menos relevante nessa equação é o motivo. Nosso presidencialismo transformou-se em um semiparlamentarismo. Se o presidente perde maioria legislativa, ele cai. Caso contrário, não. Neste momento, para a oposição, em especial para o PT, pouco interessa o impeachment. Para o partido, Bolsonaro é o melhor adversário para as eleições presidenciais de 2022. E por quê?
Primeiro, porque os petistas têm um discurso pronto. Colocarão na conta de Bolsonaro o número de mortes causadas pela pandemia, retomarão os argumentos contra as privatizações, denunciarão corte de direitos na Reforma da Previdência e dirão que a democracia está em risco, entre outras críticas. Segundo, porque, conforme as pesquisas de opinião, Bolsonaro tem um índice de rejeição alto. De acordo com o instituto Ipec (17 a 21/6), 62% dos entrevistados disseram que não votariam em Bolsonaro de jeito nenhum. Esta é uma fotografia de hoje. Lula, abatido pelo escândalo do Mensalão em 2005, conseguiu se recuperar em 2006 e garantir a reeleição. Também agora há elementos que podem ajudar Bolsonaro a recuperar parte da popularidade perdida.
O programa social que substituirá o Bolsa Família é um deles. Fala-se em aumentar o valor do benefício de R$ 190 para R$ 300. O impacto desse aumento entre o eleitorado de baixa renda, onde Lula é mais forte e Bolsonaro mais fraco, será alto. O reajuste da tabela do imposto de renda, cujo projeto foi enviado ao Congresso em junho, pode beneficiar milhões de eleitores e ter repercussão positiva para o governo em termos eleitorais. Na hipótese remota de Bolsonaro sofrer um impeachment, um novo player seria incluído no jogo da sucessão: o vice-presidente Hamilton Mourão. E ele poderia assumir o cargo em um momento de boas notícias para o eleitorado: de recuperação mais forte da economia e de superação da pandemia, sem o desgaste atribuído diretamente ao titular do cargo.
Esse superpedido, portanto, é um claro jogo de cena para criar factoide político, estimular a base, mobilizar opositores e consolidar uma narrativa para 2022. Mas, sem dúvida, Lula prefere ter Bolsonaro como principal adversário. Com tantas fragilidades, o ex-presidente não gostaria de enfrentar uma novidade no páreo do próximo ano.
Este texto foi publicado, originalmente, na Revista Istoé.
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