O resultado das eleições presidenciais de 2022 nas capitais apontam alguns indícios sobre o que podemos esperar das eleições municipais de outubro nas principais cidades do país. No pleito nacional de 2022, apesar do presidente Lula (PT) ter derrotado o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), o resultado nas capitais foi favorável ao bolsonarismo.
Das 26 capitais, Jair Bolsonaro venceu em 15 cidades: Belo Horizonte (54,25% a 45,75%); Boa Vista (79,47% a 20,53%); Campo Grande (62,65% a 37,35%); Cuiabá (61,50% a 38,50%); Curitiba (64,78% a 35,22%); Florianópolis (53,33% a 46,67%); Goiânia (63,95% a 36,05%); Macapá (54,92% a 45,08%); Maceió (57,18% a 42,82%); Manaus (61,28% a 38,72%); Palmas (60,32% a 39,68%); Porto Velho (64,63% a 35,37%); Rio Branco (72,51% a 27,49%); Rio de Janeiro (52,66% a 47,34%); e Vitória (54,70% a 45,30%).
Lula foi o vitorioso em 11 cidades: Aracajú (57,26% a 42,74%); Belém (50,28% a 49,72%); Fortaleza (58,18% a 41,82%); João Pessoa (50,10% a 49,90%); Natal (52,96% a 47,04%); Porto Alegre (53,50% a 46,50%); Recife (56,32% a 43,68%); Salvador (70,73% a 29,27%); São Luís (60,38% a 39,62%); São Paulo (53,54% a 46,46%); e Teresina (66,44% a 33,56%).
Conforme podemos observar, as capitais em que Jair Bolsonaro venceu são distribuídas regionalmente da seguinte forma: seis na região Norte (Boa Vista; Macapá; Manaus; Palmas; Porto Velho; e Rio Branco); três no Centro-Oeste (Campo Grande; Cuiabá; e Goiânia), duas no Sul (Curitiba e Florianópolis) e uma no Nordeste (Maceió).
As capitais em que Lula venceu, por sua vez, se dividem regionalmente da seguinte forma: oito na região Nordeste (Aracaju; Fortaleza; João Pessoa; Natal; Recife; Salvador; São Luís e Teresina); uma no Norte (Belém); uma no Sudeste (São Paulo); e uma no Sul (Porto Alegre).
Embora as eleições nacionais tenham características distintas dos pleitos locais, o resultado de 2022 para presidente nas capitais pode trazer indícios de tendências eleitorais para os pleitos municipais.
É importante observar que, diferentemente das eleições municipais anteriores, a disputa deste ano terá características distintas, principalmente nos grandes centros urbanos. Por conta do enraizamento da polarização entre o lulismo e o bolsonarismo, o debate nacional, bastante influenciado pela polarização, deve se misturar com os temas locais.
Como as vitórias de Lula no segundo turno da eleição presidencial nas capitais se concentrou majoritariamente no Nordeste – das 11 capitais em que o presidente superou Bolsonaro, 8 são nordestinas – os candidatos petistas e alinhados ao governo federal tendem a ter maiores chances de sucesso eleitoral na região Nordeste.
O bolsonarismo – assim como o campo da direita – tende a registrar um melhor desempenho nas capitais do Norte, Sul e Centro-Oeste. A incógnita ficará por conta do Sudeste. Apesar de Jair Bolsonaro ter derrotado Lula na maior região do país, no pleito de 2022, nas capitais do Sudeste o desempenho de Lula foi superior ao total dos estados da região.
Por exemplo, o presidente Lula (PT) obteve 41,96% dos votos válidos no Espírito Santo (ES). Em Vitória (ES), a votação de Lula foi de 45,30%. No Rio de Janeiro (RJ), Lula conquistou 43,47%. Na capital fluminense, sua votação foi de 47,34%. Em São Paulo (SP), o presidente obteve 44,76%. Na capital paulista, a votação de Lula atingiu 53,54%. Nas capitais do Sudeste, somente em Belo Horizonte (MG) o desempenho eleitoral do presidente no segundo turno foi inferior à votação obtida no Estado – Minas Gerais (MG). Lula teve 50,20% no Estado, mas ficou com 45,75% na capital mineira.
Com Jair Bolsonaro, foi observada uma tendência inversa. Ou seja, o ex-presidente teve um desempenho melhor nos Estados do Sudeste que nas capitais desses colégios eleitorais. No Espírito Santo, Bolsonaro teve 58,04% dos votos válidos. Em Vitória, sua votação foi de 54,70%. No Rio de Janeiro, o ex-presidente conquistou 56,53%. Na capital fluminense, obteve 52,66%. No Estado de São Paulo, Jair Bolsonaro conquistou 55,24%. Já na capital paulista, a votação do ex-presidente foi de 46,46%. Em Minas Gerais, a votação de Bolsonaro no segundo turno – 49,80% – ficou abaixo de seu desempenho em Belo Horizonte (54,25%).
Apesar da força do bolsonarismo nas capitais do Sudeste ser menor que no interior dessa região, a direita se mostra eleitoralmente mais forte nos grandes centros urbanos que o lulismo. Não foi por acaso que Bolsonaro venceu Lula na maioria das capitais. Assim, ao olharmos para a conjuntura eleitoral do pleito municipal, o campo da direita tende a prevalecer nas grandes cidades em outubro. O PT, apesar da vitória de Lula em 2022, continua tendo dificuldades nas capitais.
Tal desgaste do partido não representa uma novidade, já que a base social e eleitoral do lulismo se transferiu para a região Nordeste, estando concentrada majoritariamente nos municípios nordestinos médios e pequenos. Além disso, desde as eleições municipais de 2016, as capitais têm votado à direita. E pelo que vemos hoje, tal padrão de comportamento eleitoral deve se manter.
Porém, tal padrão não deve ser visto como uma desaprovação ao governo Lula. Mesmo que as questões nacionais façam parte do debate eleitoral, principalmente em grandes centros como São Paulo, Rio de Janeiro e Belo Horizonte, a realidade local não deve ser desprezada. Além disso, mesmo com as capitais votando a direita nos últimos pleitos, Lula se elegeu presidente em 2022.