Popularidade de Bolsonaro sobe entre os mais pobres e cai junto aos mais ricos

Foto: Antonio Cruz/Agência Brasil

A segmentação por renda da pesquisa Datafolha divulgada na última segunda-feira (29) mostra que a popularidade do presidente Jair Bolsonaro cresceu junto aos extratos sociais de menor renda. Por outro lado, Bolsonaro perdeu capital político junto aos segmentos de renda mais elevada.

Entre os entrevistados com renda mensal de até dois salários mínimos, a popularidade de Bolsonaro cresceu oito pontos percentuais entre dezembro de 2019 e abril deste ano. Por outro lado, a avaliação negativa do presidente caiu cinco pontos entre os mais pobres.

ATÉ DOIS SALÁRIO MÍNIMOS

AVALIAÇÃO DEZEMBRO 2019 (%) ABRIL 2020 (%)
Ótimo/Bom 22 30
Regular 33 28
Ruim/Péssimo 43 38

*Fonte: Datafolha

Tendência similar ocorre entre os trabalhadores informais com renda de até três salários mínimos. Nesse público, a avaliação positiva de Bolsonaro também cresceu oito pontos. A avaliação negativa, por outro lado, oscilou três pontos para baixo, índice que está dentro da margem de erro.

INFORMAIS COM RENDA DE ATÉ TRÊS SALÁRIOS

AVALIAÇÃO DEZEMBRO 2019 (%) ABRIL 2020 (%)
Ótimo/Bom 24 30
Regular 33 28
Ruim/Péssimo 41 38

*Fonte: Datafolha

Além da ajuda emergencial para os setores economicamente mais vulneráveis, contribuem para o aumento da popularidade de Bolsonaro nesses segmentos a defesa que o presidente faz em favor da flexibilização do isolamento social.

Como a população de menor renda – sobretudo os trabalhadores informais – são os mais afetados pela paralisação da economia, Jair Bolsonaro, ao mostrar preocupação com a economia, ganha pontos nesses setores da opinião pública.

Já entre os segmentos de maior renda, ocorreu o fenômeno inverso. A avaliação positiva do governo caiu nove pontos percentuais na comparação com dezembro do ano passado. No mesmo período, a avaliação negativa de Bolsonaro cresceu 11 pontos.

MAIS DE CINCO SALÁRIOS MÍNIMOS

AVALIAÇÃO DEZEMBRO 2019 (%) ABRIL 2020 (%)
Ótimo/Bom 44 35
Regular 25 22
Ruim/Péssimo 30 41

*Fonte: Datafolha

Como os segmentos de maior renda são economicamente mais protegidos e menos dependentes do governo, acaba pesando a avaliação sobre o desempenho do presidente no combate à pandemia do coronavírus, que é vista negativamente.

O que se observa nos números do Datafolha é que temas como o coronavírus e as crises políticas causada pela saída dos ministros Luiz Henrique Mandetta e Sergio Moro pesam menos do que a economia para os setores mais numerosos da opinião pública – renda de dois a três salários mínimos e trabalhadores informais.

Considerando a variável renda, nota-se um aumento da polarização social no país. Além dos mais pobres apoiarem mais Jair Bolsonaro do que os mais ricos, também há uma divisão entre em relação ao isolamento social.

Segundo o Datafolha, quem é favorável à sua manutenção caiu oito pontos percentuais (60% para 52%) em relação ao início de abril. No mesmo período, cresceu nove pontos (37% para 46%) o índice dos entrevistados que defendem a saída do isolamento social para a volta ao trabalho.

Na comparação com as eleições de 2018, percebe-se um realinhamento do eleitorado. No último pleito presidencial, Jair Bolsonaro tinha mais apoio dos extratos sociais de maior renda. Agora, temos uma inversão daquele padrão.

Guardadas as devidas proporções, essa mudança de comportamento tem semelhanças com o que ocorreu com a popularidade do ex-presidente Lula após a crise do mensalão, em 2005.

A partir daquele escândalo, Lula perdeu o apoio da classe média e passou a ser sustentado eleitoralmente pelos segmentos de menor renda. Com base nos números trazidos pelo Datafolha, fenômeno similar está ocorrendo agora com Bolsonaro.

A polarização social beneficia a narrativa proposta pelo bolsonarismo. Porém, também traz desafios para o governo. Como a popularidade de Jair Bolsonaro é maior entre os setores de menor renda, pressões em favor do aumento do gasto público como, por exemplo, a extensão da ajuda emergencial, poderão surgir em decorrência do cenário de recessão econômica combinada com a necessidade de que o presidente terá em manter essa fatia da opinião pública fidelizada.

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