Não se enganem, o “isolamento social” não é uma novidade no Brasil. Um certo tipo de isolamento vem se instalando no país de forma crescente e contundente desde o segundo governo Dilma, quando a política entrou na vida das pessoas via o fígado, pelas emoções, e não pela cabeça, razão.
Expressões de antagonismo, um antagonismo até justificado na maioria dos casos, passaram a ocupar lugar de destaque na comunicação interpessoal numa sociedade afundada em infinitos e crônicos problemas.
Esses problemas crônicos alimentaram a raiva que, via redes sociais, foi exposta de maneira direta e agressiva por todos os lados.
A questão da raiva é que ela domina a percepção dos erros e afasta a análise fria no caminho da busca por soluções. Alguém que busca ou sugere soluções acaba virando um “excluído” social, pois transmite uma espécie de indiferença frente à raiva que se disseminou.
Estamos isolados socialmente, pois nos informamos, debatemos e refletimos cada vez mais próximos daqueles que pensam de forma idêntica e apaixonada como a nossa.
O contraditório tornou-se um veneno para quem reflete, para quem pensa e propõe ideias e que se alimenta com a compreensão do contraditório na busca por sofisticação intelectual.
Brigamos em família, duelamos nas redes sociais e nos apaixonamos por políticos antes mesmo de eles nos entregarem, como funcionários públicos que são, os resultados de suas promessas. A similaridade de pensamento já basta como legitimidade e selo de aprovação. A capacidade de liderar não é mais nacional, mas voltada aos que pensam parecido.
A liderança seletiva alimenta o isolamento social, isolamento de opiniões e isolamento de reflexões. Somos Brasil no mapa, na Seleção e na gestão da economia.
Somos pequenos reinos de nós mesmos nas convicções políticas, na determinação do que é certo ou errado e na busca de justificativas pelo eterno adiamento das soluções.
Publicado no Correio Braziliense, em 13 de abril de 2020