A maioria dos quase 116 milhões de eleitores que se dispuseram a votar neste domingo, 28, elegeu para presidente da República o deputado Jair Bolsonaro. Porém, antes de agradecer aos 57,7 milhões que o escolheram, o capitão reformado do Exército deve gratidão ao PT de Lula.
Não fosse a sigla que um dia encheu a maioria dos brasileiros de esperança de que era possível fazer política de maneira honesta, o folclórico deputado prosseguiria como um improvável presidente. Coube ao novo mandatário, que, por acaso, tem Messias no nome, barrar o messianismo petista.
A princípio travestido de partido político, o PT consubstanciou-se numa seita conduzida por um líder carismático. Deixou de ser apenas opção de poder para declarar-se salvador do povo contra o capitalismo opressor.
Roubalheira sinistra
Herdeira da vocação salvacionista da esquerda, a sigla apresentou-se como proprietária exclusiva da verdade. Quem não era petista, era do mal – axioma também conhecido como “nós contra eles”.
Bolsonaro incorporou-se ao “eles”.
O PT ajudou a eleger Bolsonaro quando chafurdou na lama da corrupção, como extensamente ficou provado no Mensalão e na Lava-Jato. Diante da carência irrestrita de serviços básicos, a população elegeu a corrupção que suga recursos públicos como inimiga a ser derrotada.
Confrontado com números recordes de gatunagem, conduzidos por meliantes do erário, o PT adotou a empáfia como resposta. Empunhou o velho lema da sinistra, pelo qual o roubo dos companheiros é justificável porque é pela causa.
Bolsonaro incorporou o anticorrupto.
O PT desprezou o combate à violência, contribuindo, com isto, para o aumento intolerável de assassinatos e estupros. Embriagados de sua própria razão, ademais característica intrínseca às seitas, seus líderes exibiam a imagem do assassino ou estuprador como vítima da sociedade, enquanto o policial era o algoz a ser combatido.
Bolsonaro incorporou o exterminador de marginais.
O PT adotou a justa bandeira da diversidade, mas ignorou que parte expressiva da sociedade defende valores e costumes tradicionais. Inebriado pelas novelas da Globo, acreditou que todos pensavam da mesma forma e assustou a patuleia que reivindicava o direito de criar os filhos sem ideologia de gênero e sem doutrinação nas escolas.
Bolsonaro incorporou o chefe de família cristão, respeitador e honesto.
O PT persistiu na defesa de uma presidente inepta e prepotente, que afundou o Brasil na maior recessão da história trazendo de volta a carestia e o desemprego. Para defender a mandatária legalmente deposta, inventou a quimera do “golpe” e escolheu como presidente da sigla outra mulher igualmente inepta e prepotente.
Bolsonaro incorporou a defesa do impeachment ao seu currículo.
O PT acreditou que o País inteiro sairia às ruas para defender seu demiurgo que, segundo diferentes instâncias do Judiciário, foi flagrado em malfeitos que outrora abominava. Não percebeu que mesmo entre os que defendem o companheiro-mor havia a convicção de que ele roubara e deixara roubar.
Bolsonaro incorporou o antilulismo como nenhum outro.
O PT, em seus 13 anos de poder, exerceu o controle do Congresso Nacional adotando o presidencialismo de cooptação. Trocou militantes por princípio por políticos sem princípios.
Bolsonaro incorporou a antipolítica.
O PT patrulhou os brasileiros com o politicamente correto – muitas vezes justificado no conteúdo, mas equivocado na forma. A patrulha chegou às raias do autoritarismo com incidentes como o da apropriação cultural.
Bolsonaro incorporou genuinamente o politicamente incorreto.
Filhote da ditadura
Após 23 anos elegendo políticos da chamada esquerda, de Fernando Henrique Cardoso a Dilma Rousseff, os brasileiros disseram que é hora de mudar. Provavelmente mais pelo cansaço com a política tradicional do que por ideologia.
Legítimo filhote da ditadura, o capitão-presidente assumirá sendo amado e odiado por porções simétricas da cidadania. Poderá optar pelo revanchismo, ou buscar a pacificação. Sua verve beligerante não induz a pistas animadoras.
Se quiser ser bem-sucedido deverá adotar o continuísmo na economia e a ação na segurança pública. Michel Temer, o presidente-tampão, ao legar inflação controlada e emprego em alta, abriu a senda da recuperação da razia petista.
Caso sinalize responsabilidade fiscal – o oposto da ultrapassada ortodoxia petista – e aponte para o saneamento das contas públicas, galvanizará o apoio de empresários e banqueiros. Os fazendeiros já estão com ele.
Seu maior desafio será a violência. Oposição raivosa, o PT vai denunciar mundo afora – literalmente – caso assassinatos e estupros não apresentem rápida redução.
Outro colossal desafio será romper com o toma-lá-dá-cá do Parlamento, modus operandi do PT e do PSDB. Ceder ao fisiologismo, como demonstrado largamente pelos antecessores, é a porta de entrada à corrupção.
Por fim, se pretende de fato aniquilar o PT, precisará conquistar a simpatia dos nordestinos. Em qualquer hipótese, o Brasil deverá o sucesso ou o fracasso do bolsonarismo ao PT.
* Itamar Garcez é jornalista