O governador João Doria (PSDB) anunciou na semana passada que, a partir de 8 de maio, será detalhado o plano de saída de São Paulo (SP) da quarentena.
Em entrevista à Folha de São Paulona semana passada, Doria reafirmou sua narrativa de compromisso com a ciência, saúde e a medicina ao tomar sua decisão. Segundo ele, SP conseguiu achatar a curva de contaminados por ter adotado as medidas de isolamento social cedo, no dia 21 de março.
Entretanto, caso a adesão ao isolamento social fique abaixo dos 50% — o que ocorreu na última quinta-feira (23) – João Doria admite a possibilidade de rever sua decisão.
Ao dizer na entrevista que “é preciso primeiro salvar vidas” – e na sequência vem a recuperação econômica – o governador mantém sua prioridade na defesa da saúde.
Sobre as eleições de 2018, ao ser questionado sobre seu voto no presidente Jair Bolsonaro, com quem adotada hoje uma postura da principal antagonista, Doria afirmou que na campanha do ano passado se posicionou contra o PT.
Porém, “não tinha a perspectiva de ter um presidente que pudesse vir a ter comportamentos tão irresponsáveis, tão distantes da verdade, tão condenáveis sobretudo numa situação de pandemia como essa”.
Em relação às carreatas que o escolheram como alvo, João Doria sustentou que as manifestações têm sido acompanhadas pela Polícia Militar (PM), e a orientação dada ao secretário de Segurança Pública é que esse acompanhamento seja feito e não haja interrupção de vias.
Doria disse que orientou o setor de segurança pública de São Paulo para que impeça que manifestantes fechem ruas e avenidas. Ele pediu que o prefeito da capital, Bruno Covas (PSDB), fizesse o mesmo.
Sobre as pressões de parte importantes dos prefeitos de SP, Doria disse que irá lidar com a situação através do diálogo, e afirmou que, após 10 de maio, a “quarentena será estabelecida por regiões e cidades e, em algumas cidades onde for possível haver relaxamento, ele será aplicado em etapas, de forma zelosa e cuidadosa”.
Ao sinalizar o fim da quarentena e pregar o diálogo com os prefeitos, o governador divide o custo político do isolamento social vindas do setor privado. Vale lembrar que além dos prefeitos, a FIESP divulgou recentemente um calendário com uma proposta de retomada da atividade econômica.
O movimento de João Doria surge em meio ao aumento da mobilização da militância ligada ao bolsonarismo. Além disso, na semana passada, deputados estaduais do PSL anunciaram que vão protocolar um pedido de impeachment na Assembleia Legislativa contra o governador João Doria.
A ação foi elaborada pelos deputados Gil Diniz, Douglas Garcia, Major Mecca, Frederico D’Ávila e Valéria Bolsonaro.
O pedido de impedimento também cita o monitoramento da população do estado de SP por meio de parceria com empresas de telefonia.
O texto ainda aponta a “montagem de hospital temporário de campanha com valor abusivo e desarrazoado”, referindo-se aos leitos de campanha erguidos no complexo esportivo Constâncio Vaz Guimarães por R$ 42 milhões.
Como cabe ao presidente da Assembleia, Cauê Macris (PSDB), acatar ou não o pedido, a tendência é que ele seja arquivado. Entretanto, as pressões políticas sobre João Doria cresceram nas últimas semanas devido ao impacto econômico das medidas restritivas.