Desde 2002, o PSDB vai dividido para uma disputa presidencial. Nas duas eleições que ganhou (1994 e 1998), foi o Plano Real que garantiu a unanimidade de apoio a Fernando Henrique Cardoso na legenda. Não havia outro nome. Após quase oito anos de FHC, que sairia do Planalto com popularidade baixa e marcado pelo apagão de energia no país, o então candidato da sigla à Presidência, José Serra, “escondeu” o presidente em sua campanha. Temia reflexo desse desgaste na sua intenção de voto. Foi para o 2º turno contra Lula, do PT, e perdeu. Em 2006, mais uma batalha no ninho tucano, agora entre Geraldo Alckmin e José Serra, para se decidir quem seria o candidato presidencial. O escolhido foi Alckmin. Mais uma vez o PSDB chegou ao segundo turno e perdeu para o PT. Teve menos voto ainda que no 1º turno e Lula foi reeleito.
Quatro anos depois, Serra se reapresentou como candidato. De novo, a escolha foi sacrificante: o partido foi dividido para a disputa e perdeu no 2o turno para Dilma Rousseff (PT). Em 2014, a renovação: Aécio Neves foi escolhido candidato. Não sem brigas internas. Teve de matar dois leões: Alckmin e Serra, mas acabou perdendo no segundo turno para Dilma, com uma diferença de menos de 3,5 milhões de votos. Imaginava-se que, a partir daí, o retorno do PSDB ao Planalto estivesse perto. A Lava-Jato, porém, destruiu qualquer perspectiva. Em 2018, Alckmin obteve o desempenho mais fraco do partido em uma eleição presidencial: menos de 5% dos votos válidos.
Sem um candidato natural, João Doria, governador de São Paulo, o estado mais rico do país, se autodeclarou, por meio de movimentos políticos, o candidato tucano à sucessão presidencial em 2022. Mas, ao que tudo indica, e repetindo a história da legenda desde 2002, o partido caminha para travar mais uma disputa interna que deverá deixar sequelas. O governador do Rio Grande do Sul, Eduardo Leite, entrou no jogo e passou a defender a realização de prévias. A escolha do candidato presidencial no PSDB, contudo, nunca foi feita dessa forma, e sim por um acordo em “petit comité”.
Fato é que, desde o Plano Real, o PSDB perdeu a conexão com a sociedade brasileira. Perdeu também lá em 2002, quando Serra se distanciou da administração FHC, o legado da estabilidade da moeda, da responsabilidade fiscal, das mudanças estruturais (foi na gestão do PSDB que se quebraram os monopólios do petróleo, das telecomunicações, da navegação de cabotagem, que acabou com a diferença entre capital nacional e estrangeiro).
Sem vínculo com a população, sem uma agenda clara e, mais uma vez, dividido em torno da escolha do seu candidato ao Planalto, o PSDB tende a amargar nova derrota em 2022.
Texto publicado na IstoÉ dia 19/02/2021