Copom dividido – Análise

O Comitê de Política Monetária (Copom), do Banco Central (BC), reduziu em 0,25 p.p. a taxa Selic, um corte de magnitude menor do que a projetada inicialmente no último comunicado. E a desaceleração na magnitude do corte não foi o único sinal dado pelo Copom. A decisão pelo corte promovido obteve cinco votos favoráveis, enquanto quatro outros diretores preferiam um corte de 0,5 p.p., mesmo percentual reduzido na última reunião. A divisão no interior do Comitê se torna ainda mais clara quando se observa que os quatro votos a favor de um corte maior na Selic foram indicados pelo atual governo, enquanto a outra metade e o presidente Roberto Campos Neto foram indicados pelo antigo chefe do Executivo federal.

Foto: Marcello Casal JrAgência Brasil

Não é novidade que o presidente Lula (PT) discorda da condução do Banco Central em relação à política monetária, por acreditar que a linha adotada impede o crescimento econômico. Além disso, o presidente da República já deu diversas declarações em que deixa claro que não discorda de uma política fiscal de alto investimento estatal, ainda que isso gere aumento no endividamento do Brasil.

A visão do presidente, porém, não encontra apoio nem no mercado, nem no Congresso Nacional, nem entre a maioria dos membros do Copom. Isso porque o comunicado deixou claro que o Comitê observa os movimentos fiscais do país e a mudança na meta fiscal para 2025, divulgada entre as duas últimas reuniões do órgão, o que provavelmente foi um dos motivos da cautela na decisão. O comunicado cita como motivo do corte principalmente o cenário externo e as incertezas quanto ao início da flexibilização da política monetária americana.

A questão é que a atual condução da política monetária pode se reverter e se aproximar mais da visão do presidente da República. No fim deste ano, termina o mandato de Campos Neto, e Lula deve indicar um novo presidente para comandar o BC nos próximos quatro anos. Os principais cotados são Gabriel Galípolo e Paulo Pichetti, atuais diretores de Política Monetária e Assuntos Internacionais, respectivamente, do banco. Com maioria no Copom, Lula poderá finalmente ver a queda acelerada da Selic, conforme deseja. Resta saber se o resultado da possível mudança na política monetária será o esperado, a médio e longo prazos, tanto pelo presidente quanto pela equipe econômica.

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