Pessoas próximas consultadas pela Arko Advice dizem que o governador do Rio Grande Sul, o tucano Eduardo Leite, já estaria decidido a filiar-se ao PSD, o que poderia acontecer nos próximos dias. A decisão de concorrer ou não à Presidência, contudo, ficaria para março. Pela legislação eleitoral, Leite pode tomar essa decisão até 2 de abril. Essa é a data-limite tanto para filiação partidária quanto para renúncia ao governo do estado, a fim de que se possa concorrer ao cargo de presidente do Brasil (desincompatibilização).
Se Eduardo Leite decidir, de fato, deixar o PSDB para disputar o Palácio do Planalto, haverá algumas consequências políticas importantes.
A primeira delas é o enfraquecimento do PSDB, partido que já perdeu recentemente o ex-governador de São Paulo Geraldo Alckmin. A legenda saiu profundamente dividida após as prévias do ano passado, que escolheu o governador de São Paulo, João Doria, como o seu candidato na corrida sucessória presidencial. Novas baixas poderão acontecer com uma eventual saída de Leite. Há quem projete que a bancada na Câmara, hoje com 31 deputados, possa cair mais de 50%.
Em decorrência dessa perda de quadros, a pressão sobre Doria tenderia a aumentar. Lideranças no ninho tucano já têm defendido publicamente que o partido desista de candidatura própria para presidente e apoie outro nome. A alternativa mencionada é a senadora Simone Tebet (MDB-MS).
Sem apoio para concorrer ao Planalto, restariam basicamente duas opções a Doria: aceitar compor uma chapa como vice ou concorrer à reeleição no estado de São Paulo. A segunda possibilidade colidiria com os entendimentos amarrados com Rodrigo Garcia, que deixou o DEM para se filiar ao PSDB estimulado por Doria para concorrer ao governo estadual.
Pesquisa XP/Ipespe divulgada na última sexta-feira (18) mostra a dificuldade de João Doria de avançar em seu próprio reduto eleitoral. Na pesquisa espontânea, ele aparece com apenas 4% das intenções de voto para presidente. Na estimulada, sobe para 5%.
Outra consequência da saída de Eduardo Leite do PSDB para disputar o Planalto seria o aumento da pulverização da terceira via no páreo. Leite seria mais uma alternativa nessa via. Há quem acredite que ele possa entusiasmar mais o eleitor do que Doria, Ciro Gomes (PDT) e Sergio Moro (Podemos). Mas isso não seria fácil.
As pesquisas de hoje indicam que 80% dos votos válidos vão para o ex-presidente Lula (PT) ou o presidente Jair Bolsonaro (PL). Restariam, portanto, 20%. Ou seja, para viabilizar sua ida para o segundo turno, Eduardo Leite teria de atrair eleitores tanto de Lula quanto de Bolsonaro. Uma tarefa nada simples.
Por fim, a filiação de Leite elevaria o cacife do PSD no geral, mas, especialmente, o de Gilberto Kassab. Com uma candidatura própria competitiva, Kassab espera aumentar a força de sua sigla, elegendo uma bancada expressiva para a Câmara dos Deputados, o que resultaria em mais recursos dos fundos eleitoral e partidário, além de mais tempo na televisão para a propaganda eleitoral.
O fortalecimento do PSD poderia enfraquecer bastante o PSDB. A ponto de o partido, após as eleições, avaliar a possibilidade de se fundir com outra legenda. A crise interna no PSDB poderia aumentar, caso o partido perca o governo de São Paulo, que comanda há décadas. E, ao que tudo indica, o PSDB tende a enfrentar uma das eleições mais difíceis no estado.
Na pesquisa XP/Ipespe, Fernando Haddad (PT) e Alckmin aparecem empatados com um mesmo percentual de intenção de voto: 20%, cada. Rodrigo Garcia, pré-candidato do PSDB, aparece com 3%; atrás de Márcio França (PSB) com 12%; de Guilherme Boulos (PSOL), com 10%; e de Tarcísio de Freitas (Sem partido), com 7%. No cenário sem Alckmin, Garcia permanece com apenas 5%.
Uma das razões para Eduardo Leite ainda não ter definido sua saída do PSDB para entrar na disputa presidencial é que ele vê com preocupação a proximidade entre Lula e Kassab e o esforço do ex-presidente para tentar atrair o apoio do PSD já no primeiro turno. A chance é baixa, mas Lula está jogando pesado. Em troca do apoio de Kassab, Lula trabalharia para o PT desistir de concorrer ao governo da Bahia. Além disso, apoiaria um nome do PSD no estado.
Outra preocupação é que Rodrigo Pacheco (PSD-MG), presidente do Senado, ainda não disse com todas as letras que não vai disputar o Planalto. E Pacheco sempre foi um nome defendido por Kassab.
Ao que tudo indica, a tendência é que Eduardo Leite de fato saia do PSDB e migre para o PSD. Apesar de apelos do setor empresarial para que ele tente um novo mandato como governador, Leite hoje está mais inclinado a projetar seu nome nacionalmente.