Boulos e Nunes esboçam estratégias para a disputa de outubro

O prefeito de São Paulo (SP), Ricardo Nunes (MDB), e o deputado federal Guilherme Boulos (PSOL-SP), que polarizam o cenário pré-eleitoral da disputa pela Prefeitura de SP, esboçam suas estratégias iniciais para o pleito de outubro.

Guilherme Boulos – Foto: Zeca Ribeiro/Câmara dos Deputados

Além de explorar pontos negativos da administração Nunes, Boulos aposta na nacionalização do debate municipal. É a partir desta estratégia que o pré-candidato do PSOL firmou uma aliança com o PT, terá o presidente Lula (PT) como cabo eleitoral e a ex-prefeita Marta Suplicy (PT) como sua vice.

Marta, que até pouco tempo era secretária de Relações Internacionais de Ricardo Nunes, ao mudar de posição, retornar ao PT e ser a vice de Boulos se transformou numa peça importante da nacionalização buscada por Boulos. A conquista de Marta Suplicy, que contou com uma atuação direta de Lula, representou um movimento estratégico importante da pré-campanha de Guilherme Boulos, já que empurrou Ricardo Nunes para o campo da direita no tabuleiro eleitoral.

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O que Boulos pretende ao nacionalizar o debate em SP é explorar o antibolsonarismo e vincular Nunes à narrativa de extrema-direita, buscando afastar o prefeito do eleitor mais moderado. Diante do avanço das investigações sobre o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) e aliados em torno da suposta tentativa de golpe de Estado em 2022, Boulos tem procurado aumentar a tentativa de relacionar Ricardo Nunes com o bolsonarismo.

Em recente entrevista à Folha, Guilherme Boulos declarou que Nunes se omite e deixa dúvidas sobre o seu compromisso com os valores democráticos. A tática de Guilherme Boulos passa por explorar a relação entre Ricardo Nunes e Jair Bolsonaro para tentar desgastar o prefeito. Diante desses movimentos de Boulos, Nunes precisará tomar uma decisão no próximo dia 25: comparecer ou não ao ato que foi convocado por Bolsonaro na Avenida Paulista.

Bolsonaro e Ricardo Nunes – Foto: Divulgação/PL

Caso compareça ao ato político convocado por Jair Bolsonaro, a vinculação entre Nunes e o bolsonarismo ficará ainda mais explícita, ajudando Boulos na estratégia de nacionalizar o debate municipal. Por outro lado, estando presente na manifestação, o prefeito dará um passo importante para consolidar a preferência da base social bolsonarista por ele na eleição de outubro na capital paulista.

Já se não comparecer ao ato, Ricardo Nunes, de um lado, evitará que Guilherme Boulos tenha mais argumentos para explorar o vínculo de Nunes com o bolsonarismo. Porém, há o risco da base bolsonarismo ficar insatisfeita com o prefeito, pressionando pelo lançamento de um nome ligado ao bolsonarismo raiz.

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Desde que as operações da Polícia Federal (PF) atingiram Bolsonaro, Nunes tem evitado comentar o assunto. Boulos, por sua vez, utiliza o episódio para reforçar a narrativa da frente democrática para derrotar o bolsonarismo na capital paulista em outubro.

Foto: Tânia Rêgo/Agência Brasil

A estratégia de Boulos é tentar reproduzir na capital paulista a estratégia vitoriosa da eleição presidencial de 2022, quando Lula venceu Bolsonaro tendo sua candidatura ancorada na narrativa da Frente Ampla pela democracia.

Ricardo Nunes, por outro lado, pretende associar Guilherme Boulos às invasões de propriedades privadas promovidas pelo Movimento dos Trabalhadores Sem Teto (MTST). Nunes também deverá explorar em sua narrativa o fato de ser filiado ao MDB, partido que conduziu a transição do país para a democracia, em 1985. Esses argumentos devem fazer parte da estratégia de Nunes em rotular Boulos como extremista.

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Nunes deverá, ainda, procurar explorar a inexperiência de Boulos, já que o pré-candidato do PSOL está cumprindo seu primeiro mandato como deputado federal. Isso explica também a escolha do PT como Marta Suplicy como vice de Boulos. Marta, além de ser vista pela opinião pública como a melhor prefeita que SP já teve, segundo dados do instituto Quaest, possui uma larga experiência na vida pública.

Marta Suplicy e Lula – Foto: Fabio Rodrigues Pozzebom/Agência Brasil

Nesta disputa entre Nunes e Boulos, que deverá ser bastante acirrada, levará vantagem quem conquistar a maior fatia do centro. Nunes tem o desafio de evitar ser rotulado como um candidato bolsonarista, o que afastaria o eleitor mais moderado, em que pese a resiliência do apoio social de Jair Bolsonaro. Boulos, por outro lado, necessita evitar ser rotulado como um candidato extremista, já que isso poderá assustar a classe média paulistana.

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Neste jogo, quem poderá ter um papel decisivo é a deputada federal Tabata Amaral (PSB-SP). Embora apareça bem-posicionada nas pesquisas – Tabata aparece na terceira posição – o apoio de Tabata no segundo turno deve ter um grande peso. Há quem veja que o apoio de Tabata pode ter o mesmo peso do apoio da hoje ministra do Planejamento, Simone Tebet (MDB), a Lula no segundo turno de 2022. Assim, Tabata pode ser o fiel da balança na disputa paulistana.

Foto: Cleia Viana/Câmara dos Deputados

Além da cobiçada Prefeitura de SP, o pleito de outubro na capital paulista se relaciona com as eleições de 2026. Uma eventual reeleição de Ricardo Nunes pode contribuir para fortalecer uma eventual candidatura do governador Tarcísio de Freitas (Republicanos) ao Palácio do Planalto. Já se Guilherme Boulos vencer, além do campo de esquerda voltar a comandar a capital após oito anos e projetar um nome da nova geração de esquerda, Tarcísio terá um adversário no comando da cidade mais importante do Estado.

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