Em artigo publicado no Estadão, o cientista político, Murillo de Aragão, analisou a estratégia de Moro na Câmara dos Deputados.
Em um ambiente de “Palmeiras versus Corinthians” na Comissão de Constituição e Justiça da Câmara dos Deputados, o ministro Sérgio Moro se saiu bem assim como tinha ocorrido no Senado Federal.
A estratégia de Sérgio Moro na Câmara foi a mesma traçada na audiência pública anterior. Ele não reconheceu a autenticidade dos diálogos. Disse novamente que foi vítima de ataques de hackers profissionais e lembrou que o Ministério Público recorreu de muitas sentenças proferidas por ele.
Moro foi favorecido pelas regras da audiência. Ouviu várias perguntas, agressões e ataques e respondeu ao que quis. Quase sempre usando respostas básicas do tipo “não me lembro” e distribuindo encômios à Operação Lava Jato.
Outro dado relevante é que os deputados pareciam mais interessados em projetar uma imagem – contra e a favor da Operação Lava Jato – para seu eleitorado do que em esclarecer os fatos que motivaram o evento. A audiência pública terminou sendo um palco para uma representação que favoreceu individualmente a alguns deputados e, no geral, ao depoente.
O momento mais crítico para Sergio Moro ocorreu na sucessão de perguntas do deputado federal Paulo Pimenta (PT-RS) sobre detalhes do processo e sobre a existência de contatos com advogados de defesa.
O deputado federal Alesandro Molon (PSB-RJ), na linha do que questionou Paulo Pimenta (PT-RS), desafiou Moro a informar se houve algum contato dele com advogados de defesa tal qual teria ocorrido com promotores. Moro tergiversou.
O site The Intercept Brasil havia prometido bombásticas revelações no final de semana e que não se materializaram. Sem elas, a audiência ficou girando em torno do que se sabia. Mais do mesmo com pitadas de comédia pastelão de lado a lado.
A sensação de vergonha alheia foi patente em muitos momentos. No olé que Moro deu na oposição. No troféu entregue a ele pelo deputado Boca Aberta (PROS-PR) e, por fim, na patética acusação de juiz ladrão feita pelo deputado Glauber Braga (PSOL-RJ) e que, para alívio da cidadania envergonhada, encerrou o debate.
*Murillo de Aragão é advogado, cientista político e professor-adjunto da Columbia University