Ao definir o nome do novo ministro da Economia, Lula estará optando por uma de duas alternativas: aportar credibilidade econômica ao seu governo ou arriscar um caminho que demande construção de credibilidade. Na primeira hipótese, o presidente eleito vai provocar euforia no mercado com efeitos imediatos nas decisões de investimento, além de alta na bolsa de valores e queda nas taxas de juros futuros e no câmbio. Na segunda, provocará incerteza e imprevisibilidade, com reflexos já conhecidos e comprovados quanto ao comportamento negativo dos mercados.
Ao optar pela previsibilidade, Lula terá a vantagem de comprar “saldo médio” para a sua gestão. Isso facilitará o diálogo com o Congresso Nacional na busca por solução para as questões postas pela PEC da Transição e pelo teto de gastos. Se a solução for mais heterodoxa, terá um custo adicional junto ao Congresso e com o encaminhamento das soluções para as suas promessas de curto prazo. O debate entre o dogmatismo e o pragmatismo é o desafio que o presidente eleito tem pela frente. Em sendo uma escolha, existem perdas e ganhos embutidos em cada uma delas.
Caso opte pelo caminho da prudência, Lula libera energia para avançar em outras pautas, usando o “saldo médio” de credibilidade aportado à sua gestão. O outro caminho implica conviver com a desconfiança dos agentes econômicos e as consequências negativas daí advindas até que se esclareça a direção a ser tomada.
“Se a solução for mais heterodoxa, terá um custo adicional junto ao Congresso e com o encaminhamento das soluções para suas promessas”
O mercado não deve ser considerado o rei do mundo, pois seu comportamento não é intencional, nem tampouco decorre de decisões monocráticas. Decorre de reações às percepções provocadas pelas circunstâncias. Parodiando José Ortega y Gasset, o mercado é o mercado e suas circunstâncias. Se o Estado propõe circunstâncias razoáveis, o mercado reage razoavelmente, validando-as por meio de reações positivas.
A leitura cautelosa do atual cenário mostra que o pragmatismo seria o caminho do sucesso. Mas há quem acredite que a hora de avançar com visões mais heterodoxas é agora. Tal situação demanda uma reflexão. O que gera a prosperidade, salvo circunstâncias excepcionais, é o trabalho. Quem organiza o trabalho é o setor privado a partir de impulsos do próprio mercado e da qualidade da intervenção governamental por meio de regulamentações e estímulos.
Sem uma definição de rumos e nomes, as expectativas para a economia estão embaçadas por causa da incerteza dos caminhos a seguir. O dilema de Lula é complexo. Se confirmar um nome sem o apoio do mercado, causará turbulência. Se nomear alguém do mercado, passará a imagem de submisso. Como resolver a questão? A solução está em uma escolha de equilíbrio. Como sempre, a virtude está no meio.
Considerando que o anúncio do novo ministro da Economia pode ocorrer a qualquer instante, esta coluna pode ficar velha muito rápido. Mas a mensagem que deve ser observada está na certeza de que, em se tratando de economia, prudência é altamente recomendável.
Publicado em VEJA de 7 de dezembro de 2022, edição nº 2818