A resiliência do bolsonarismo

Apesar de a pesquisa de opinião divulgada pela CNT/MDA na semana passada ter apontado uma redução na avaliação positiva do governo Jair Bolsonaro – de 35% para 32% em relação a janeiro –, há informações reveladas pela sondagem que mostram que o bolsonarismo continua resiliente. Por exemplo, dos 32% que avaliam o governo positivamente, 14,3% classificam a gestão Bolsonaro como “ótima”.

Ainda segundo a CNT/MDA, 39,2% dos entrevistados aprovam o desempenho pessoal do presidente. Embora o número esteja abaixo dos 55,4% que o desaprovam, trata-se de percentual importante. Em relação ao combate à pandemia do coronavírus, 51,7% aprovam a atuação do governo. Outros aspectos importantes que reforçam essa resiliência do presidente são:

  • 29,3% defenderam que o isolamento social só deve ser praticado pelas pessoas que integram o grupo de risco;
  • 25,2% não confiam nas informações divulgadas pela imprensa; e
  • 28,8% são favoráveis a manifestações contra o Congresso Nacional e o Supremo Tribunal Federal.

O índice de popularidade do presidente é similar ao índice dos que apoiam as bandeiras defendidas por ele (caso da flexibilização do isolamento social em relação à pandemia), sinalizando que ele conta com uma sólida base social. Outro ponto a ser destacado é que, diferentemente de presidentes anteriores, Bolsonaro não trabalha com a lógica de desmobilizar a polarização para atrair os setores que não são 100% alinhados com ele. Pelo contrário.

O modus operandi de Bolsonaro é fortalecer a polarização, criando o máximo possível de polêmicas a fim de manter sua base social mobilizada. Um exemplo dessa estratégia ocorreu no episódio envolvendo a divulgação de seus três exames laboratoriais para coronavírus. Ao se recusar a divulgar os laudos e forçar uma judicialização do tema, levando o caso ao STF, parte de imprensa interpretou a intransigência do presidente como um indício de que ele teria sido infectado.

Na prática, o que se viu quando ele apresentou os exames, com resultado negativo para a Covid-19, foi que Bolsonaro criou uma “armadilha” para parte dos meios de comunicação. Assim, além de reforçar a imagem de supostamente “perseguido pela imprensa”, ele passa para a opinião pública a tese de que “fala a verdade”, enquanto a imprensa “mente”. Considerando que o governo enfrenta uma pandemia sem precedentes na história, crises políticas e um cenário econômico delicado, conseguir preservar 1/3 de apoio popular é algo significativo.

Para tanto, Bolsonaro necessita trabalhar constantemente o paradoxo de, por um lado, alimentar sua base social com críticas ao establishment e, por outro, emitir declarações que acalmem o establishment. Até porque, mesmo tendo a seu lado uma base social aguerrida, a crise econômica é um grande obstáculo. Vale lembrar que o Ministério da Economia já projeta uma queda do PIB de 4,7% para este ano. Por isso, afora a força nas ruas, ele precisa conversar com as instituições. Não à toa iniciou “namoro” com o Centrão.

A retração econômica pode não levar os bolsonaristas convictos a abandonar o presidente. Mas pode intensificar a migração da parcela da opinião pública que avalia o governo como “regular” para “ruim/péssimo”. Mas mesmo que eventualmente uma maioria se vire contra o presidente, teremos uma opinião pública crítica desmobilizada, já que hoje a única força social que se apresenta com capacidade de mobilização popular é justamente o bolsonarismo.

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