A divulgação do vídeo sobre reunião ministerial de 22 de abril não é “uma bala de prata nem de bronze” para o presidente Jair Bolsonaro, embora possa produzir inconvenientes. Por enquanto, não se comprovam as denúncias de supostos crimes cometidos pelo presidente Jair Bolsonaro feita pelo ex-ministro Sergio Moro.
A publicidade do vídeo, autorizada pelo ministro do Supremo Tribunal Federal (STF), Celso de Mello, apenas fortalece a “guerra de narrativas” e o ambiente de polarização no país. Mas não é suficiente para fortalecer um pedido de impeachment contra o presidente.
Como consequência, a pressão sobre o Procurador-Geral da República (PGR), Augusto Aras, apesar das investigações ainda estarem em curso, tende a diminuir.
Tensão com o STF
A relação com o STF também pode continuar tensa por conta do vídeo. Na gravação, Bolsonaro reagiu à possibilidade de uma decisão do Supremo para impedi-lo de circular no País. Segundo ele, se a Corte tentar impedi-lo, terá “uma crise política de verdade”. Durante a pandemia do coronavírus, Bolsonaro visitou comércios e participou de manifestações, contrariando orientações de autoridades sanitárias para o distanciamento social como método para evitar a contaminação.
O ministro da Educação, Abraham Weintraub, fez uma declaração dura contra a Corte. “Vamos botar esses vagabundos no STF na cadeia”. Logo após a publicidade dos vídeos, o ministro Celso de Mello afirmou que há “possível delito”. Como gesto ao Centrão, que já pedia sua cabeça, e ao STF, o afastamento de Weintraub não pode ser descartado.
Vale lembrar que nesta sexta-feira, ministro do Gabinete de Segurança Institucional, Augusto Heleno, divulgou nota em reação ao pedido do ministro Celso de Mello para que a Procuradoria-Geral da República (PGR) se manifeste sobre a solicitação de apreensão do celular do presidente Jair Bolsonaro. No texto, assinado por Heleno e compartilhado nas redes sociais pelo próprio Bolsonaro, o GSI fala em possíveis “consequências imprevisíveis para a estabilidade nacional” de uma eventual apreensão do aparelho do presidente.
Guedes prestigiado
Também pode ocorrer uma piora na relação com o funcionalismo público diante da defesa que o ministro da Economia, Paulo Guedes, fez da privatização do Banco do Brasil. Naturalmente o assunto será explorado pelo PT e as oposições como forma de colocar as corporações do serviço público contra Guedes.
Porém, ficou nítido na reunião o prestígio de Paulo Guedes junto a Bolsonaro, assim como o comprometimento do ministro da Economia com a agenda de reformas, o que é positivo para o período pós-pandemia.
Assim, os setores da oposição e de parte da imprensa que jogaram suas fichas na chamada “bala de prata” saem enfraquecidos. O amplo espaço dado aos vídeos acabou criando um palanque em cadeia nacional para que o presidente e seus ministros reforçassem a imagem de anti-establishment, assim como os valores liberais-conservadores defendidos durante a campanha presidencial de Bolsonaro como, por exemplo, Deus, Brasil armado, família, liberdade de expressão e o livre mercado.
Perante seus seguidores, Bolsonaro ganhou uma importante munição para mobilizar sua base social, sobretudo nas redes sociais, que precisa ser constantemente “estimulados” para continuarem mobilizados.
O assunto continuará com amplo destaque na imprensa e no meio político. Entretanto, como o trabalho remoto reduz a margem de atuação por parte da oposição no Congresso Nacional, que poderia aproveitar a oportunidade para tentar criar CPIs e convocar ministros a prestar esclarecimentos, o tema continua dependendo da condução do inquérito pode parte da PGR.