Dois fatos ocorridos no PSDB na semana passada evidenciam o tamanho da crise no ninho tucano.
O primeiro foi a reação à filiação do deputado federal Alexandre Frota (SP), ex-PSL, ao partido. O ex-presidente estadual do PSDB, Pedro Tobias, e o ex-presidente nacional do partido José Aníbal protocolaram um pedido de impugnação da filiação, alegando que o deputado “possui vasto histórico de hostilidades ao PSDB e às suas mais emblemáticas lideranças”.
O pedido de Tobias e Aníbal, que integram o grupo dos chamados “tucanos históricos”, foi rejeitado pelo presidente do PSDB de São Paulo, Marco Vinholi, aliado do governador de São Paulo, João Doria, grande articulador da ida de Frota para a legenda. A reação à filiação de Frota é mais um capítulo da disputa no diretório de São Paulo entre Doria e os tucanos históricos.
Não bastasse esse mal-estar no diretório do maior colégio eleitoral do país, a Executiva Nacional do partido decidiu, na quarta-feira passada (21), rejeitar os dois pedidos feitos por São Paulo de expulsão do deputado federal Aécio Neves (MG) da sigla.
A decisão da Executiva representou uma derrota para Doria, que vem trabalhando em favor de um “novo PSDB”. Em sua conta no Twitter ele afirmou que “o PSDB escolheu o lado errado”. A contrariedade não se restringiu a Doria. O presidente do diretório municipal de São Paulo, Fernando Alfredo, disse que “a Executiva Nacional passou a mão na cabeça de um criminoso. O Aécio fodeu com a gente quando começaram a cair sobre ele as acusações e ele não se afastou, não se licenciou, e ficou ali no partido alimentando essa questão”.
A votação que rejeitou a expulsão de Aécio deve tensionar ainda mais o já tumultuado ambiente no PSDB. Mais que uma derrota de Doria, a manutenção do ex-senador na legenda pode ser interpretada como uma decisão que desautorizou seu líder nacional, pois Doria vinha se manifestando publicamente a favor da saída de Aécio do PSDB.
A permanência de Aécio no partido colocará em xeque a bandeira do “novo PSDB”, já que o deputado federal mineiro continuará a prejudicar a imagem da sigla. Não à toa cresce a chance de o prefeito de São Paulo, o tucano Bruno Covas, que será candidato à reeleição em 2020, trocar de legenda. Vale recordar que recentemente ele declarou que “é ele ou eu”, referindo-se à expulsão ou não de Aécio do partido.
A associação do nome de Covas, que integra o grupo dos tucanos históricos, ao de Aécio seria negativa para a candidatura do prefeito, o que pode levar a um racha no ninho tucano. E a busca de Covas por outro partido não deve ser descartada.
Caso isso ocorra, pode haver a construção de um novo partido de centro. Sobre isso vale recordar a afinidade entre Doria e o presidente da Câmara dos Deputados, Rodrigo Maia (DEM-RJ), afinidade que poderia culminar com a fusão das duas legendas tendo em vista as eleições de 2022. Na semana passada, ambos estiveram conversando em Brasília.
Com o PSDB desgastado e o MDB fragilizado, fica disponível um espaço ao centro do tabuleiro político. O desafio é conseguir uma unidade entre esse conjunto de forças políticas que possa representar uma alternativa à polarização entre bolsonarismo X lulismo, que hoje vigora na política nacional