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O dilema chinês na Coréia do Norte

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Nas últimas semanas, acompanhei de perto alguns debates entre os principais especialistas em política chinesa dos EUA, Europa e Ásia.

Enquanto o mundo acompanha atentamente os próximos passos a serem tomados por Kim Jong-un na Coréia do Norte, ou por Donald Trump nos EUA, as grandes decisões em relação ao problema se concentram cada vez mais em Pequim, nas mãos de Xi Jinping.

A China tem uma relação complicada com a Coréia do Norte há muitos anos. Não podemos concluir que exista uma irmandade umbilical entre ambos pelo simples fato de serem comunistas.

A relação complicada entre eles passou por melhoras e pioras desde os anos 50, quando a Guerra da Coréia levou o exército chinês a cruzar a fronteira com seu vizinho comunista e ajudar a empurrar as forças do Sul para o paralelo 38.

Com o passar dos anos, o baixo fluxo migratório de coreanos para a China era visto como amigável. Apesar de existir um representativo número de coreanos de ascendência Han (principal grupo étnico na China), a proximidade se dava pela boa relação entre Mao e Kim Il Sung (avô de Kim Jong-un).

O ápice das boas relações vieram com Kim Jong Il, pai de Kim Jong-un. Ao longo dos anos 90, com Jiang Zemin (aliado político de Xi Jinping) à frente da China, os investimentos em infraestrutura na Coréia do Norte visavam não só desenvolver o vizinho, mas atraí-lo ainda mais para sua esfera de influência.

Essa estratégia de aproximação via infraestrutura é antiga. Vem sendo aplicada em relação aos principais vizinhos do sudeste asiático e visa a ser amplificada com a iniciativa “Um Cinturão, Uma Estrada” (Belt and Circle Initiative).

Com a morte de Kim Jong Il, a visão de seu sucessor e filho Kim Jong-un prevaleceu. Desconfiado da China, uma de suas primeiras (e mais chocantes providências) foi a de mandar executar seu tio Hyon Yong-chol, que era um entusiasmado defensor de uma aproximação mais forte e completa com Pequim.

Ao contrário do que foi noticiado, que Hyon Yong-chol havia respondido rispidamente a Kim em um desfile militar, o que ocorreu foi que Kim já estava incomodado com seguidas menções à política de manutenção da China satisfeita por meio de ações militares mais contidas.

Naturalmente, esta ação gerou retaliações em Pequim, levando ao fechamento de alguns pequenos negócios controlados por norte-coreanos, assim como um freio no processo de imigração coreana para a China.

Durante anos, a postura de Hyon Yong-chol diante do governo chinês refletia a visão majoritária dos militares coreanos ao longo dos anos 1990 e 2000. A escalada de tensões no leste asiático é vista como profundamente problemática para os chineses, pois a beligerância coreana poderia levar Japão e Coréia do Sul, históricos rivais, a aumentarem suas capacidades militares e, em última instância, buscar armamentos nucleares.

Para Pequim, o ápice desta problemática seria a possível tendência de Taiwan, sua “província rebelde”, seguir no mesmo caminho. Um dos grandes objetivos de política doméstica, a reincorporação de Taiwan, é um processo lento no qual os chineses empregam paciência de sobra. A última coisa que querem é que um impulsivo Kim Jong-un leve a região a modificar suas posturas militares, prejudicando a projeção de poder chinês.

A Coréia do Norte é um teste para a liderança chinesa e para o novo governo que Xi montará após o 19º Congresso do Partido.

A animosidade entre os dois e a pressão por ações mais contundentes por parte dos americanos coloca Xi em uma posição incomoda: pôr um histórico aliado comunista contra a parede e aplicar-lhe sanções pesadas, ou aguardar o desenrolar dos fatos e correr o risco de ter sua projeção de poder regional freada por conta de um Japão e uma Coréia do Sul fortalecida militarmente?

Não podemos esquecer do último e catastrófico cenário: uma guerra na península coreana que poderia se expandir para a região.

Publicado no Blog do Noblat em 09/10/2017

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