Javier Milei está liderando a corrida presidencial na Argentina e muitas pessoas estão curiosas sobre como seria o seu governo. Com declarações ousadas, Milei conquistou o voto de eleitores desiludidos que já foram simpatizantes do kirchnerismo. Um dos pontos que mais chama a atenção em sua campanha é a proposta de dolarização da economia argentina, uma solução comum para governos que não sabem mais o que fazer diante de uma situação econômica desastrosa.
No entanto, a dolarização apresenta desafios para um país sem reservas em dólares. Para atrair dólares para a Argentina, Milei teria que aumentar os juros, o que inviabilizaria o acesso ao crédito, algo essencial no país. Além disso, a própria ideia da dolarização já teve efeitos negativos, como a desvalorização de 20% do peso argentino desde as primárias e até saques em lojas e supermercados.
O ponto crucial não é apenas as ideias que Milei propõe, mas se elas são realmente viáveis e executáveis.
Em caso de os resultados das primárias se repetirem, o líder libertário Javier Milei teria pouca capacidade de obter apoio no Congresso Nacional argentino. Nenhuma das três principais forças políticas teria maioria na Câmara dos Deputados ou no Senado.
Nas eleições, mais da metade dos membros da Câmara serão renovados para o período de 2023 a 2027, enquanto um terço dos membros do Senado serão renovados para 2023-2029. Atualmente, o partido La Libertad Avanza não tem representantes no Senado e poderia obter cerca de 8 senadores. Na Câmara dos Deputados, eles possuem apenas 2 vagas, mas poderiam ter até 40 após as eleições.
Considerando as reformas estruturais necessárias na Argentina, obter apoio no Congresso é fundamental. No entanto, o discurso de Milei, categorizando outros políticos como parte da “Casta”, não permite uma negociação necessária para uma situação tão delicada no país.
Se Javier Milei vencer e não tiver o apoio do Congresso, ele poderá propor o fechamento do mesmo. Por outro lado, se o Congresso decidir que ele não tem capacidade para governar, poderá iniciar um processo de impeachment.
Tudo indica que haverá um segundo turno na Argentina e que as eleições não serão decididas até 19 de novembro. O resultado terá um grande impacto no futuro econômico do país, especialmente nas questões relacionadas aos controles de capitais, à participação nos BRICS e às negociações com o FMI. Portanto, o apoio do Congresso é crucial.
Milei poderá se tornar o primeiro presidente de direita da Argentina em muito tempo. No entanto, o governo argentino não será de direita, pois enfrentará dificuldades para alcançar os mesmos resultados positivos de sua campanha no âmbito do Congresso Nacional. Um governo dividido entre um presidente de direita e um Congresso de centro-esquerda é a fórmula para mais quatro anos de turbulência política, econômica e social na Argentina.