O presidente Lula voltou a criticar o Banco Central e a taxa de juros do país, um dia após afirmar que independência da instituição era “uma bobagem”. Em encontro no Palácio do Planalto com 106 reitores e representantes de institutos de educação, Lula disse que os agentes econômicos deveriam “aprender” uma nova “lógica” de que investimento não é gasto.
O presidente citou as áreas de saúde, educação, e urbanização de favelas onde o governo dará prioridade. “A única coisa que não é tida como gasto por essa gente de mercado é o pagamento de juros da dívida, eles acham que isso é investimento”.
No encontro com os reitores, Lula questionou qual seria “a explicação de a gente ter um juro de 13,5% hoje? O BC é independente, a gente poderia não ter nem juro. A inflação está 6,5%, 7,5%. Por que os juros estão 13,5%?”. Depois das duas manifestações do presidente sobre economia, principalmente em relação ao Banco Central, ministros tentaram desfazer a má impressão.
No Twitter, o ministro de Relações Institucionais, Alexandre Padilha, disse que a autonomia do Banco Central será preservada e que tanto a política monetária quanto a análise macroeconômica são de extrema importância para o país.
Segundo Alexandre Padilha, com o ex-presidente do BC, Henrique Meirelles, a instituição teve autonomia, de fato, e que isso não mudaria agora que há uma regulamentação por lei.
A ministra do Planejamento, Simone Tebet, disse que a autonomia do Banco Central precisa ser respeitada e que não há crescimento duradouro do PIB com um déficit primário de 2%
Presidente do BC minimiza
O presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, minimizou a fala de Lula sobre a independência da autarquia. Ele reafirmou a necessidade de autonomia do BC para evitar volatilidade no mercado brasileiro.
“Eu acho que em algumas dessas entrevistas, muitas coisas estão tiradas de contexto. Acho que ele quis dizer que ‘você poderia ter independência sem a lei e fazer as coisas funcionarem’”, afirmou.
Para Campos Neto, “quando pensamos no que está acontecendo e como foi difícil esse processo eleitoral, acho que o mercado teria sido muito mais volátil se o banco central não tivesse autonomia por lei”. O economista Luiz Fernando Figueiredo, ex-diretor do Banco Central, mantém a cautela em relação à política fiscal que será implementada pelo governo Lula e ao impacto que ela terá na economia.
Apesar de dizer que as medidas anunciadas na semana passada pelo ministro da Fazenda, Fernando Haddad, deverão reduzir o déficit primário e desacelerar o crescimento da dívida pública, ele prefere pagar para ver se as promessas de que haverá equilíbrio fiscal a partir de 2024 vão se concretizar.
“Uma coisa é o Haddad falar ‘vou trazer a estabilidade fiscal’. Outra é ele convencer o presidente e o PT a fazerem isso”, afirma. “Só o tempo vai nos dizer o que irá acontecer”.