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A versão 2.2 de Bolsonaro – Análise

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Em 2018, o então deputado Jair Bolsonaro emergiu do chamado “baixo clero” da Câmara e se candidatou à Presidência na esteira da bandeira anticorrupção, num país traumatizado por denúncias envolvendo os governos petistas que resultaram nos fatídicos casos do mensalão e do petrolão.

Há 28 anos no Parlamento, o capitão reformado do Exército aproveitou o anonimato perante o grande público para se valer também da onda antissistema, música para os ouvidos dos eleitores, exaustos da chamada “velha política”. Somou-se a essa receita o conservadorismo de uma extensa pauta de costumes e a defesa da economia liberal. Como se sabe, Bolsonaro foi eleito.

De lá para cá, porém, muita coisa mudou. O Brasil de hoje tem como principal preocupação a inflação e não mais a corrupção, como naquele ano. Tal quesito coloca Bolsonaro em desvantagem diante do seu principal adversário, o ex-presidente Lula (PT). Isso porque nos governos Lula a economia registrou superávit primário recorde e milhões foram tirados da miséria, enquanto hoje o mandatário amarga dois dígitos de inflação. O Bolsonaro de 2018 também sofreu mudanças, já que seu governo rompeu com algumas de suas principais bandeiras de campanha.

O exemplo mais clássico foi o casamento – analogia frequentemente utilizada pelo próprio Bolsonaro – com o Centrão. Antes de ser eleito, Bolsonaro e seus aliados atacavam esse bloco de partidos de centro chegando a chamá-lo de “ladrão”. Fato é que Bolsonaro percebeu – ou já sabia – que, sem o apoio de quem faz política, a governabilidade fica ameaçada. Por essa lógica, precisou destituir militares de cargos estratégicos para dar espaço a caciques da “velha política”. Por fim, viu aliados presos, caso do ex-ministro da Educação Milton Ribeiro, envolvido em um suposto esquema de favorecimento de recursos públicos e pagamento de propina.

Bolsonaro saiu na defensiva. Alegou que, se Milton cometeu erros, seus erros não se comparam aos casos do governo petista expostos na mídia. Já a aliança com o Centrão é explicada pela necessidade de se aprovarem projetos no Parlamento. A imprevisibilidade e a espontaneidade de Bolsonaro são as mesmas e devem se repetir, por exemplo, nos embates com o Judiciário, o que ajuda a alimentar parte de sua base de apoio, que faz uma crítica contumaz ao Supremo. Em 2022, o candidato seguirá a mesma receita de 2018. Resta saber se o eleitor, também.

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