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O impacto da possível aliança Lula, Alckmin, Haddad e França em SP – por Carlos Borenstein

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A pesquisa divulgada pelo instituto Datafolha nesse final de semana sobre as eleições de 2022 ao Palácio dos Bandeirantes mostra vantagem para o ex-governador de São Paulo (SP) Geraldo Alckmin (Sem partido), o também ex-governador Márcio França (PSB) e o ex-prefeito de SP Fernando Haddad (PT).

No primeiro cenário testado, Alckmin lidera. O segundo colocado é Haddad seguido por França e o líder do Movimento dos Trabalhadores Sem Teto (MTST), Guilherme Boulos (PSOL).

No segundo cenário, sem a presença de Alckmin e com o vice-governador de SP, Rodrigo Garcia (PSDB) na disputa representando o governo João Doria (PSDB), quem assume a liderança é Haddad. O segundo colocado é França seguido por Boulos, o ministro de Infraestrutura, Tarcísio de Freitas (Sem partido), que deve se filiar ao PL e ser o candidato do presidente Jair Bolsonaro (PL) no Estado, e Garcia.

E no terceiro cenário, sem Alckmin e Haddad, a liderança fica com França. O segundo colocado é Boulos seguido por Tarcísio e Garcia. Outro aspecto importante mostrado pelo levantamento é que o percentual de eleitores “sem candidato” (brancos, nulos e indecisos), varia de 20% a 30%, dependendo do cenário.

CANDIDATOSCENÁRIO 1 (%)CENÁRIO 2 (%)CENÁRIO 3 (%)
Geraldo Alckmin (Sem partido)28
Fernando Haddad (PT)1928
Márcio França (PSB)131928
Guilherme Boulos (PSOL)101118
Tarcísio de Freitas (Sem partido)579
Rodrigo Garcia (PSDB)68
Arthur do Val (Patriota)234
Abraham Weintraub (Sem partido)112
Vinicius Poit (Novo)111
Brancos/Nulos/indecisos202530

*Fonte: Datafolha (13 a 16/12)

Apesar da boa posição de Geraldo Alckmin e Fernando Haddad na pesquisa, o ex-governador e o ex-prefeito são os dois pré-candidatos mais rejeitados – 35% e 34%, respectivamente. Em seguida aparecem Boulos (28%), Arthur do Val (22%), Rodrigo Garcia (18%), Márcio França (16%) e Tarcísio de Freitas (16%).

O fato de Alckmin e Haddad terem as maiores rejeições pode pesar, por exemplo, em uma eventual decisão deles em repensarem a condição de pré-candidato, pois num eventual segundo turno, o candidato mais rejeitado tende a ter mais dificuldades de vencer a eleição. Entre os pré-candidatos competitivos, quem possui menos rejeição e, portanto, maior potencial de crescimento são França, Garcia e Tarcísio.

Outro aspecto importante mostrado pelo Datafolha é que a decisão de Geraldo Alckmin em se desfiliar do PSDB combinada com a possível escolha dele como candidato a vice na chapa que será encabeçada pelo ex-presidente Lula (PT) tem o potencial de mexer não apenas com o cenário nacional, mas também na disputa em SP.

Caso opte pela candidatura a vice, teremos uma modificação do cenário em SP. Mais do que isso, uma aliança com Lula abre a possibilidade da construção de uma frente ampla contra o governador de SP, João Doria (PSDB), e o presidente Jair Bolsonaro (PL) no maior colégio eleitoral do país.

A partir da confirmação de que Geraldo Alckmin não será mais candidato em SP, as articulações se voltarão para a construção de uma candidatura de centro-esquerda. Hoje, o campo progressista tem três pré-candidatos postados no tabuleiro: o ex-governador Márcio França (PSB), o ex-prefeito Fernando Haddad (PT) e o líder do Movimento dos Trabalhadores Sem Teto (MTST), Guilherme Boulos (PSOL).

Segundo França, a chance de Alckmin ser o vice de Lula é hoje é de “99%”. Hoje, uma união entre França, Haddad e Boulos é improvável. No entanto, caso Alckmin seja o vice de Lula, principalmente se ele se filiar ao PSB, uma composição entre Márcio França e Fernando Haddad é provável. O problema é que nenhum dos dois deseja abrir mão da candidatura própria neste momento.

França, que em 2018 foi derrotado por Doria por apenas 3,5% de diferença entre os votos válidos, numa acirrado segundo turno, argumenta nos bastidores que seu nome possui maior penetração no eleitor de centro, algo que Haddad teria mais dificuldades.

O PT, por sua vez, contra-argumenta com a tese de que na eleição de 2020 pela Prefeitura de SP, após o eleitor petista enxergar que a candidatura do deputado federal Jilmar Tatto (PT) não iria emplacar, ocorreu o voto útil da base do PT em direção a Guilherme Boulos e não em Márcio França. Assim, para setores do PT, caso Haddad não seja candidato, o eleitor do partido poderá votar em Boulos e não em França.

Apesar dessas ponderações, crescer nos últimos dias a possibilidade de uma união entre PT e PSB no Estado. A dúvida é saber quem será o candidato a governador e quem disputará o Senado – França ou Haddad. Caso essa aliança seja selada, terá boas chances de chegar ao segundo turno, principalmente se tiver a chapa Lula-Alckmin como cabo eleitoral.

Porém, dificilmente a esquerda irá unida para o pleito, pois o presidente nacional do PSOL, Juliano Medeiros, tem criticado as negociações entre Lula e Alckmin e poderá, por exemplo, bancar a candidatura de Boulos a governador.

As movimentações visando a disputa de 2022 ao Palácio dos Bandeirantes também se aceleraram em outros campos. Na semana passada, o ex-ministro do Meio Ambiente Ricardo Salles (Sem partido) confirmou que não será candidato senador. Segundo Salles, o ministro de Infraestrutura, Tarcísio Freitas, será o candidato a governador do bolsonarismo. A tendência é que Tarcísio se filie ao PL. O candidato ao Senado na chapa deve ser o presidente da FIESP, Paulo Skaf, que está no MDB, mas deve trocar de partido.

Quem também se articula é o vice-governador Rodrigo Garcia (PSDB). Na semana passada, Garcia encaminhou a aliança com o MDB e a União Brasil. Também existe a expectativa que Garcia atraia o Cidadania, PP, Republicanos, SD e Podemos.

Embora João Doria esteja desgastado – segundo o Datafolha, Doria é avaliado negativamente (ruim/péssimo) por 38% dos eleitores. 37% avaliam o governo como regular e 24% têm uma avaliação positiva (ótimo/bom) – a candidatura de Rodrigo Garcia exerce um poder de atração sobre os partidos por conta do controle que da máquina administrativa que Garcia terá no ano da eleição. A medida em que o vice-governador se tornar mais conhecido, ele tende a atingir uma intenção de voto próxima a avaliação do governo Doria (24%).

Hoje, a tendência é que Rodrigo Garcia dispute uma vaga no segundo turno com o candidato do bolsonarismo – provavelmente Tarcísio Freitas – contra o representante da esquerda/centro-esquerda (Márcio França ou Fernando Haddad).

Porém, este cenário ainda pode sofrer alterações. Mesmo com a aproximação que vendo fazendo em direção a Lula, Geraldo Alckmin ainda poderá ser candidato a governador, principalmente se ingressar no PSD, o que embolaria a eleição em SP.

Um dado importante a ser ressaltado – tendo como base a pesquisa do Datafolha – é que há um voto pendendo para a esquerda em SP. No primeiro cenário, mesmo com Alckmin na disputa, as intenções de voto em Haddad, França e Boulos somam 42%. Na segunda simulação, sem a presença de Alckmin, as intenções de voto em Haddad, França e Boulos atingem 58%. E no terceiro cenário, sem Alckmin e Haddad, as intenções de voto em França e Boulos somam 46%.

Apesar da possibilidade de Haddad/França estarem no segundo turno, temos ainda muitos votos em disputa – conforme mencionado anteriormente, cerca de 1/3 do eleitorado ainda está sem candidato. Além disso, Rodrigo Garcia e Tarcísio de Freitas devem crescer. Isso sem falar em Guilherme Boulos, que deve atrair votos à esquerda, mesmo com uma eventual aliança entre Haddad e França, tendo Lula e Alckmin como cabos eleitorais.

Mesmo com essas variáveis em aberto, uma eventual união entre PT e PSB, unindo Lula e Alckmin no plano nacional, e Haddad e França no plano estadual seria muito competitiva.

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