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Carlos Borenstein: Disputa na Câmara traz obstáculos para Doria

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O racha registrado no DEM durante a eleição para a presidência da Câmara que elegeu o deputado federal Arthur Lira (PP-AL) poderá impactar os movimentos do governador João Doria (PSDB) visando a disputa de 2022 ao Palácio do Planalto.

Insatisfeito com a decisão do DEM em ficar neutro na disputa entre Lira e Baleia Rossi (MDB-SP), o deputado federal Rodrigo Maia (DEM-RJ) poderá sair do partido após romper com o presidente nacional da legenda, o ex-prefeito ACM Neto.

Além do rumor de uma possível ida para a Casa Civil do governo Doria em São Paulo, Maia, caso troque de partido, poderá se filiar ao PSDB. Mesmo que Maia migre para o ninho tucano e assuma um cargo de relevância no Palácio dos Bandeirantes, tanto ele quanto Doria saem enfraquecido da eleição na Câmara.

Vale lembrar que João Doria e Rodrigo Maia foram importantes expoentes da aliança unindo PSDB, DEM e MDB em torno da candidatura derrotada de Baleia Rossi. O projeto em torno de Baleia era visto como um segundo round da eleição presidencial de 2022, já que o primeiro – as eleições municipais de 2020 – teve PSDB, DEM e MDB como vitoriosos.

O revés de Maia e sua possível saída do DEM poderá impactar o projeto Doria 2022, já que para concorrer ao Palácio do Planalto precisará se desincompatibilizar do cargo, deixando o governo de SP para o vice-governador Rodrigo Garcia (DEM). Para isso, o ideal seria que Garcia também saia do DEM, o que ainda é uma incógnita.

Diante deste cenário, João Doria precisará repensar sua estratégia para 2022, já que o DEM, um dos principais parceiros do PSDB, entrou em crise. A disputa na Câmara mostrou que o cenário é incerto e o DEM só decidirá o seu caminho na disputa pelo Palácio do Planalto quando as chances de vitória dos nomes colocados estiverem mais claras.

Parte dos aliados de Doria reconhece que não pode ser descartada a possibilidade do DEM apoiar a reeleição do presidente Jair Bolsonaro. Aliás, o embate entre o ex-presidente da Câmara Rodrigo Maia (RJ) e o ex-prefeito de Salvador ACM Neto, presidente da legenda, também deixou explícita a divisão interna no DEM.

Na estratégia definida por Doria, o apoio do DEM ao seu projeto presidencial seria amarrado com a adesão do PSDB à candidatura de seu vice, Rodrigo Garcia, ao governo paulista em 2022. Aliados do governador apostam na força de Garcia no DEM para consolidar um acordo.
Há um movimento nos bastidores para levar Garcia ao PSDB. Seria uma solução para que o partido mantenha a cabeça de chapa e não corra o risco de perder o governo do estado mais rico do país, comandado pelos tucanos de forma quase ininterrupta há 25 anos.

O possível afastamento do DEM, por outro lado, reforçou a proximidade de João Doria com o MDB. Vale recordar que o primeiro gesto para atrair o MDB havia sido feito no ano passado, com a escolha de Ricardo Nunes para ser o vice na chapa do prefeito Bruno Covas (PSDB), que acabou reeleito.

A aproximação com o MDB coloca, por exemplo, o nome do secretário estadual da Fazenda, Henrique Meirelles, como um potencial candidato a governador. Além dele, opções como o ex-governador Geraldo Alckmin (PSDB) e a secretária estadual de Desenvolvimento Econômico, Patrícia Ellen, que foi convidada para se filiar ao PSDB, começam a figurar na bolsa de apostas.

Conforme podemos observar, a eleição de Arthur Lira combinado com a aproximação de Jair Bolsonaro com o centrão trouxe também importantes reflexos sobre a disputa de 2022 ao Palácio dos Bandeirantes.

Caso o DEM esteja com Bolsonaro em 2022 e Rodrigo Garcia siga no partido, João Doria terá que renunciar o cargo, entregando o governo de São Paulo para o vice, que, dependendo da conjuntura, poderá até mesmo ser um aliado do bolsonarismo.

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