Em São Paulo, o crescimento no número de internações em hospitais privados em decorrência da covid-19 colocou os médicos em alerta. O aumento tem sido sentido desde a semana passada, mas atingiu seu pior momento nos últimos dias.
Informações obtidas pelo O Brasilianista mostram que, no Sírio Libanês, um dos mais reconhecidos hospitais privados da região, o número de leitos ocupados dobrou entre outubro e novembro. São 124 pacientes internados e 32 na UTI – número que, de acordo com fontes do hospital, se equipara ao registrado em abril, quando a Covid-19 atingia seu pico no Brasil.
No Hospital Israelita Albert Einstein, também foi detectado um grande crescimento no número de casos. Consultado pela reportagem, o hospital respondeu em nota que, da última semana de setembro ao dia 12 de novembro, a média de internações oscilou entre 50 e 55 pacientes infectados pelo SARS-Cov-2. Logo em seguida, o número teve um pico: atualmente existem 93 leitos ocupados por pacientes com diagnóstico confirmado para a Covid-19
“O caos chegou a São Paulo”, disse um médico que atua nos principais hospitais da capital. “Sirio Libanês, Albert Einstein, Vila Nova Star e Mirante da Beneficência Portuguesa não tem mais vagas. Tenho pacientes em todos e não há vaga em UTI. O Pronto Socorro está lotado e as cirurgias eletivas suspensas. Estou tendo dificuldade em lidar com os pacientes internados”, revelou sob a condição de anonimato.
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O crescimento no número de casos já começa também a atingir as unidade públicas de saúde. Somados hospitais públicos e privados, as taxas de ocupação dos leitos de UTI são de 47,3% na Grande São Paulo e 42,3% no Estado. Em outubro o índice de ocupação vinha caindo e chegou a ser de 39,3%.
“Indicadores de ocupação de leitos de UTI e internação sob responsabilidade do governo de São Paulo cresceram nesta semana. O momento requer, portanto, precaução, cautela e cuidado”, alertou nesta semana o governador de São Paulo, João Doria (PSDB).
Segunda onda?
O crescimento repentino no número de pacientes com covid-19 atendidos pelos hospitais privados em São Paulo gerou preocupação por ser uma espécie de repetição do padrão visto no início da pandemia: a contaminação atingiu primeiro as classes mais altas e depois se espalhou para o restante da população.
Contudo, tanto os hospitais como médicos infectologistas dizem que, dessa vez, a situação pode ser diferente.
“Os novos números são insuficientes para projetar qualquer evolução da pandemia no Brasil. Estes dados, porém, alertam para a necessidade da manutenção das medidas de prevenção: uso de máscaras em qualquer ambiente, fechado ou ao ar livre, respeitar o distanciamento social sempre, não participar de aglomerações e realizar a higienização das mãos com frequência”, avaliou o Hospital Israelita Albert Einstein em nota.
Já o infectologista Werciley Junior, chefe da Comissão de Controle de Infecção Hospitalar do grupo Santa Lúcia, avalia que o crescimento da ocupação de leitos em hospitais privados é reflexo da diminuição dos cuidados de uma parcela da classe média e alta que matinha isolamento desde o começo da pandemia mas descuidou nas últimas semanas.
“Inicialmente essa população se preservou, mas com o tempo começou a ir a eventos sociais, festas e, com isso, o vírus começou a circular nessa população. E esse grupo de classe mais alta é quem procura a assistência nos hospitais privados. Além disso, em São Paulo, o Einstein e o Sírio são hospitais de referência para algumas unidades de outros estados. Pacientes com certa complexidade são encaminhados para esses dois hospitais”, explica.
Portanto, o infectologista avalia que esse crescimento não deve ser o início de uma segunda onda. “É a mesma onda, que, na verdade, chegou em um nicho da população que ainda não tinha sido atingida”, pontua.
Segundo ele, no Distrito Federal, o mesmo fenômeno já tem sido notado, mas de forma mais fraca. “A gente vinha em uma trajetória de diminuição no número de casos e agora o número está estável”.