Os impactos da eleição de Joe Biden para o Brasil

Foto: Reprodução Twitter/Biden

As eleições dos Estados Unidos tiveram uma definição no final da última semana, o democrata Joe Biden foi eleito e será o quadragésimo sexto presidente do país. O futuro das relações entre Brasil e Estados Unidos entrará em um novo episódio da história, com Joe Biden na Casa Branca, e dependerá da capacidade do governo brasileiro de atuar de maneira pragmática.

A pauta ambiental deverá ser a linha mais delicada da relação entre os dois governos. Biden deve se unir a outros países, especialmente os membros da União Europeia, para pressionar governos, ao redor do mundo, a reduzir emissões de carbono e aumentar a preservação ambiental. Um retorno americano ao Acordo de Paris é uma tendência fortíssima dentro desse cenário futuro.

Um setor que pode se beneficiar da adesão americana ao Acordo de Paris é o dos biocombustíveis brasileiros, como o etanol de cana-de-açúcar e o biodiesel de oleaginosas, podem ganhar bastante espaço na agenda internacional e um crescimento de mercado é possível.

O Brasil teria, no entanto, de ter uma mudança em relação às queimadas e aos desmatamentos na Amazônia, tornando a atuação do vice-presidente Hamilton Mourão, no Conselho Nacional da Amazônia, mais importante ainda. A principal atuação seria para amenizar a imagem do Brasil em relação aos países que compartilham da pauta ambiental de Biden.

Se o desmatamento e as queimadas nos ecossistemas brasileiros piorarem, os EUA podem fazer coro às pressões sobre o Planalto, inclusive apoiando o posicionamento de alguns países da União Europeia em relação ao acordo com o Mercosul.

Dentro do agronegócio, a pecuária de corte será o setor mais pressionado pela eleição de Biden, pelo fato de que a cria de bezerros é a primeira ocupação agropecuária em áreas recém desmatadas do bioma Amazônico.

Na economia e no câmbio, espera-se uma desvalorização do dólar em relação às principais moedas do mundo, com exceção do Brasil que possui problemas domésticos como a dívida pública pressionando a moeda nacional.

É esperado, também, que com a vitória do Democrata, o medo de investir caia, estimulando a busca por produtos de maior retorno e diminua a procura por ativos considerados reservas estratégicas.

Diversos setores industriais brasileiros se animaram com a vitória de Biden, e acreditam que a mudança no governo americano fará com que algumas restrições a produtos brasileiros, no mercado americano, caiam.

O setor de alumínio, que sofre com a imposição de tarifas por parte do governo americano, acredita que Biden dará maior previsibilidade ao comércio internacional. Em outubro deste ano, os EUA anunciaram a imposição de tarifas de US$ 1,96 bilhão em produtos de folha de alumínio importados de 18 países, entre eles o Brasil. O setor vê chance de aumento do consumo do produto por conta da agenda ambiental.

Já a Confederação Nacional da Indústria (CNI) considera que a vitória do democrata Joe Biden nas eleições presidenciais americanas permitirá a continuidade das negociações dos acordos bilaterais entre Brasil e Estados Unidos.

Existe ainda a expectativa de que a política comercial seja semelhante a que existiu durante o mandato do ex-presidente Barack Obama, do qual Joe Biden foi vice, Brasil e Estados Unidos avançaram em importantes agendas comuns, com a assinatura dos acordos Céus Abertos, previdenciário e de cooperação econômica e comercial. Foi Biden, como vice-presidente, quem assinou protocolos de intenção dos dois países referentes a acordos de facilitação de comércio e de boas práticas regulatórias, que estão atualmente em negociação.

Brasil e Estados Unidos são parceiros de longa data nas áreas de comércio e de investimentos. O intercâmbio de bens e serviços entre os dois países foi superior a US$ 100 bilhões em 2019. Por sua vez, os investimentos diretos das empresas americanas no Brasil superam US$ 70 bilhões, e os investimentos das empresas brasileiras nos Estados Unidos ultrapassam US$ 39 bilhões.

Os EUA são hoje o segundo maior parceiro comercial do Brasil, atrás apenas da China. Em outubro, o governo brasileiro fechou com Washington um pacote de acordos para intensificar esse fluxo de bens e serviços. Ao todo, foram assinados três documentos, voltados para os seguintes objetivos: facilitação de comércio, boas práticas regulatórias e anticorrupção.

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