Na última quarta-feira (21) os moradores de Brasília que caminhavam pela Esplanada dos Ministérios foram surpreendidos pelo barulho da turbina de aviões de caça que cruzaram o céu brasiliense. Tratava-se do F-39 Gripen, o novo avião de combate que passou a fazer parte da Força Aérea Brasileira (FAB) nesta semana.
A apresentação oficial da aeronave foi feita nesta sexta-feira (23) em cerimônia com a presença do presidente Jair Bolsonaro e ministros, em comemoração ao Dia do Aviador e ao Dia da Força Aérea Brasileira.
Ao todo, o Brasil comprou 36 aeronaves por um total de 39,3 bilhões de coroas suecas – cerca de R$ 24 bilhões que serão pagos no decorrer 25 anos. O contrato inclui armamentos, simuladores e suporte logístico, com treinamento de mecânicos e pilotos. Além disso, como as aeronaves vão ser construídas com a participação de engenheiros brasileiros, em um processo de transferência de conhecimento e tecnologia, posteriormente o avião poderá ser montado no Brasil, expandindo a frota para além das unidades compradas da Suécia.
“Esse acordo traz uma vantagem estratégica no domínio do conhecimento crítico para a produção de uma moderna aeronave supersônica de caça do Brasil e vultosos investimentos voltados à ampliação e o fortalecimento da base científica, tecnológica e industrial do Brasil”, disse o comandante da aeronáutica, o Tenente-Brigadeiro do Ar, Antonio Carlos Moretti Bermudez, nesta sexta-feira (23).
Uma longa negociação
Antes de ser finalmente recebido pelo Brasil, o caça sueco passou por um longo processo de compra, que muitas vezes esteve perto de ser cancelado. (Veja cronologia no final da página)
A negociação teve início em 1995, ainda no governo de Fernando Henrique Cardoso. Nesse ano foi criado o programa FX, que pretendia substituir os caças franceses Mirage 2000 que se aposentaram em 2013, se tornando itens de decoração nas bases da Aeronáutica. Apesar da aposentadoria tardia, no início do século o Mirage já era considerado antiguidade.
Em 2002, quando Lula era presidente, o projeto de modernização da FAB foi cancelado. Na época, foi anunciado que a verba que antes era destinada à atualização bélica do Brasil seria redirecionada para o programa Fome Zero, que começava a tomar forma.
A ideia só voltou a aparecer em 2006. Foi aberto um processo de concorrência, em que, além do Gripen, disputavam o caça francês Rafale F3 e o americano F-18 Super Hornet.
O Rafale chegou a ser selecionado, mas o acordo foi por água abaixo pela constatação de que o veículo de combate era muito caro e pouco eficiente. Desde então as atenções se voltaram ao Gripen.
O anúncio oficial de que os caças seriam comprados foi feito em 2013, durante o governo Dilma. No ano passado, a primeira unidade foi finalizada e fez seu voo inaugural em solo sueco. Só em setembro de 2020 o primeiro Gripen chegou ao Brasil.
Ficha técnica
Um dos requisitos que foram levados em conta na seleção do Gripen pela FAB foi a capacidade do veículo de atuar em condições de escassez.
“É um caça inteligente que se destaca pelo avanço de sua tecnologia embarcada, no que se refere à suíte de guerra eletrônica, ao sistema de comunicação de dados e a integração de diversos sensores. É capaz de pousar em pistas curtas, em rodopistas e locais com estrutura reduzida, como é o caso do ambiente amazônico”, avaliou o Tenente-Brigadeiro do Ar Bermudez.
Com 15,2 metros de comprimento e 8,6 de envergadura, o caça precisa de somente 500 metros para decolar e cerca de 600 para pousar. Bastam 10 minutos e cinco militares para reabastecer o avião de combustível e armamentos. Com velocidade de 2.400 km/h, o Gripen poderia ir do Rio de Janeiro (RJ) a Manaus (AM) em pouco menos de uma hora. Para se ter ideia, um voo comercial entre as duas cidades pode levar até 4 horas.