A partir deste mês, quem recebeu a primeira parcela do auxílio emergencial em abril passa a receber R$ 300 – e não mais os R$ 600 pagos anteriormente pelo governo. Embora um segmento da população ainda continue recebendo R$ 600, a redução do auxílio é mais um componente que poderá impactar não apenas a popularidade do presidente Jair Bolsonaro, como também as eleições municipais de novembro.
No curto prazo, a tendência é que a popularidade de Bolsonaro continue girando em torno dos 40%, conforme indicado pelas últimas pesquisas de avaliação do governo.
Embora as pesquisas apontem que a maioria dos entrevistados aprova a redução do auxílio emergencial – 45%, segundo a sondagem da XP/Ipespe da última quinta-feira (15) –, é preciso esperar para ver como essa redução será percebida no dia a dia de seus beneficiários. Pois é possível que tal mudança altere o humor da opinião pública.
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Sobre o auxílio, é importante mencionar alguns dados revelados pela pesquisa do PoderData da quinta-feira passada. Entre o eleitorado sem renda fixa – trabalhadores informais –, a avaliação positiva de Bolsonaro caiu 4 pontos percentuais (46% para 42%) nos últimos 15 dias. A avaliação negativa, por sua vez, subiu 12 pontos (18% para 31%) no período.
Ainda de acordo com o PoderData, entre os beneficiários do auxílio a aprovação ao governo caiu 4 pontos (59% para 55%), enquanto a desaprovação cresceu 6 pontos (33% para 39%).
Como o apoio ao bolsonarismo – e também dos candidatos alinhados ao presidente – vem caindo entre a população dos grandes centros urbanos, principalmente nos setores de classe média de maior renda e escolaridade, manter a popularidade acima da média nacional entre os beneficiários do auxílio emergencial é estratégico para Bolsonaro e seus aliados.
As perdas registradas durante o ápice da pandemia não serão recuperadas rapidamente. Como consequência, o índice de desemprego tende a continuar alto.
Mesmo que os setores de comércio e serviços venham registrando um ambiente mais positivo na economia, as perdas registradas durante o ápice da pandemia não serão recuperadas rapidamente. Como consequência, o índice de desemprego tende a continuar alto.
O elevado desemprego, combinado com a queda no valor do auxílio emergencial, poderá provocar mudanças de percepção em relação ao clima social.
O fato de o auxílio ser reduzido em meio às eleições municipais trará também um desafio adicional para os candidatos, principalmente os atuais prefeitos. Apesar de o valor ser pago pelo governo federal, muitos prefeitos se beneficiaram com a medida e viram sua popularidade crescer em plena retração da atividade econômica.
Tal como ocorre quanto à popularidade de Jair Bolsonaro, ainda é uma incógnita o impacto que a redução do auxílio terá na avaliação dos prefeitos e, consequentemente, sobre o potencial eleitoral de quem disputa a reeleição ou trabalha para emplacar seu sucessor.
Caso cresça o pessimismo com Bolsonaro, é possível que esse eventual clima social mais negativo em relação ao emprego e à renda também repercuta na imagem dos atuais prefeitos. Assim, os prefeitos e/ou candidatos da situação que hoje aparecem bem posicionados poderão se deparar com uma mudança no cenário eleitoral quando estivermos próximos do primeiro turno do pleito municipal, que ocorrerá em 15 de novembro. Por outro lado, se a popularidade de Bolsonaro continuar elevada, os prefeitos e candidatos vinculados ao presidente poderão se beneficiar disso.
A redução do auxílio pode provocar impacto mais forte nos pequenos municípios das regiões Norte e Nordeste, onde a dependência em relação aos programas de transferência de renda do governo federal é maior.
A redução do auxílio pode provocar impacto mais forte nos pequenos municípios das regiões Norte e Nordeste, onde a dependência em relação aos programas de transferência de renda do governo federal é maior.
No caso das disputas em capitais estratégicas, esse impacto social da redução do auxílio emergencial mexerá diretamente no cenário de São Paulo e no do Rio de Janeiro. Entre os paulistanos, o deputado federal Celso Russomanno (Republicanos) se apresenta como o candidato de Bolsonaro. Entre os cariocas, quem adota a mesma estratégia é o prefeito e candidato à reeleição Marcelo Crivella (Republicanos).
Tanto Russomanno quanto Crivella apostam no vínculo com Bolsonaro para chegar ao segundo turno, que ocorrerá em 29 de novembro. Como os dois candidatos possuem votos concentrados majoritariamente no eleitorado evangélico e na população de menor renda e escolaridade, o tema do auxílio afeta diretamente seus projetos eleitorais.
Por enquanto, a associação com Bolsonaro ajuda os dois candidatos na luta por uma vaga no segundo turno. Contudo, dependendo do que acontecerá com o clima social após a redução do auxílio, sobretudo entre os trabalhadores informais, essa associação com o presidente poderá trazer novos desafios para ambos.
*Análise Arko – Esta coluna é dedicada a notas de análise do cenário político produzidas por especialistas da Arko Advice. Tanto as avaliações como as informações exclusivas são enviadas primeiro aos assinantes. www.arkoadvice.com.br