Os estudos para a criação do programa social Renda Cidadã, que deve expandir e substituir o Bolsa Família, já se arrastam por pelo menos cinco meses sem uma resposta definitiva de como o governo vai financiar a proposta. Para o economista Maílson da Nóbrega, ex-ministro da Fazenda do governo Sarney, Bolsonaro chegou a ter em mãos e descartou a única opção que poderia viabilizar o programa sem colocar em risco o teto de gastos.
“O certo a se fazer era o que foi proposto por Paulo Guedes: rever benefícios que não são eficazes”, defendeu o economista em bate-papo com o cientista político e CEO da Arko Advice, Murillo de Aragão.
Para Maílson da Nóbrega, Bolsonaro se colocou em uma posição complicada ao dizer publicamente que “não tiraria dos pobres para dar aos paupérrimos”. A frase foi formulada em agosto como forma de afastar a ideia que era ventilada pela equipe econômica de usar a verba hoje direcionada ao abono salarial para financiar o novo programa social.
“O abono salarial não ataca nenhum dos grandes problemas sociais do Brasil, ele é mal focalizado. Não ataca o problema da exclusão social, já que é voltado a trabalhadores formais, como um 14º salário. Por isso também não ataca a questão da miséria. Também não ataca os problemas da previdência porque todos os beneficiários estão na ativa. Nada mais razoável e justo que se transfira esse dinheiro para quem realmente precisa, que são os informais”, pondera .
Na avaliação do economista, agora só resta uma opção a Bolsonaro, caso ele não queira furar o teto de gastos: voltar atrás. “A outra saída seria furar o teto, não deixando o renda cidadã ser computado no teto – o que seria uma catástrofe. Seria percebido pelo mercado como o início do fim do teto de gastos. Em um governo que ainda tem dificuldades na articulação política, surgiriam sugestões para excluir outros gastos, como ciência e tecnologia e investimentos”, analisa.
Veja o bate-papo completo: