Pouco mais de uma semana depois do Banco Central (BC) permitir que as instituições financeiras fizessem o cadastro das chaves PIX dos clientes, já haviam sido registrados mais de 30 milhões de usuários. O número se deve à uma forte campanha de divulgação que tem sido protagonizada pelos próprios bancos e instituições financeiras.
A plataforma tem o objetivo de simplificar e baratear o sistema de pagamentos e transferências que é usado atualmente. No lugar do TED e do DOC, que levam de duas horas a um dia para serem realizados, o PIX vai reduzir o tempo para 10 segundos, mesmo se a transação for entre bancos diferentes. Além disso, o sistema ficará disponível 24 horas por dia.
Os custos também são baixos: enquanto o TED tem taxas que podem chegar a R$ 25, o PIX tem um custo menor do que R$ 0,01, valor que deve ser pago pelos bancos.
De acordo com o BC, já são 762 instituições bancárias cadastradas que podem registrar seus clientes por meio de chaves digitais de endereçamento. O cadastro é feito pelos aplicativos dos próprios bancos. Por isso, assim que foi liberado pelo BC, teve início uma corrida para o registro das chaves PIX, com direito a campanhas publicitárias das instituições. O Banco do Brasil chegou lançar um sorteio de R$ 700 mil em prêmios para os clientes que se cadastrarem. Já no NuBank, o sorteio terá um total de R$ 370 mil em prêmios.
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Todo esse esforço para registrar a chave PIX dos clientes têm despertado a desconfiança de alguns usuários que se perguntam: se o PIX reduz burocracias e taxas, porque os bancos estão tão interessados no cadastro dos clientes?
A resposta é: fidelização
Gerido pelo BC, o PIX dá sinais de que veio para ficar. Contudo, para os bancos, significa um repentino aumento de competição, já que cada chave só pode ser cadastrada em uma única conta bancária.
“O objetivo dos bancos com essas campanhas é reter o relacionamento com o cliente. Se ele escolher sua principal chave, que deve ser o número de celular, para uma determinada instituição, possivelmente é lá que ele vai centralizar todas suas movimentações financeiras”, explica Raul Moreira, diretor executivo de open banking do Banco Original.
Na avaliação de Moreira, os bancos estão preocupados com o aumento da competição por conta do PIX. “O consumidor vai sempre optar pela instituição que oferecer a melhor experiência. E o cenário novo é de valorização da experiência digital”, avalia.
“Mas não é preciso correr para se cadastrar. Vai continuar sendo possível registrar uma chave no PIX mais tarde. O consumidor pode avaliar com calma a qual instituição quer vincular sua chave”, pontua.
Fortalecimento das Fintechs
Boa parte do aumento da concorrência se deve ao fato do PIX favorecer a instalação das Fintechs – empresas de tecnologia voltadas ao setor financeiro.
“No novo arranjo, para que uma instituição faça parte ela não precisa, necessariamente, ser uma instituição financeira ou possuir uma licença bancária; se você é uma fintech, por exemplo, precisa apenas seguir as determinações das resoluções e compliance do PIX e estar conectado a um participante direto (empresa regulada pelo BC). Isso faz com que startups consigam competir com os grandes bancos de maneira igualitária, barateando os serviços adjacentes para o consumidor final” avalia Ricardo Guimarães, CEO da fintech Bit Capital.
O fim do cartão de débito?
Para especialistas do mercado financeiro, a chegada do PIX deve mudar drasticamente o relacionamento entre clientes e bancos. Primeiro porque as formas tradicionais de pagamento, DOC e TEC, vão perder atratividade, apesar de continuarem existindo.
Henrique Galotti, gerente sênior de serviços financeiros da EY, multinacional de auditoria e consultoria, analisa que até o cartão de débito deve perder espaço.
“Não é por ser instantâneo que o PIX vai substituir o débito e sim porque o custo dele é muito menor. Uma compra no débito custa para a loja entre 0,8 até 1,5% do valor da compra. Já no PIX estamos falando de frações de centavos que o Banco Central vai cobrar pela operação. Mesmo levando em conta o custo que os operadores do serviço vão ter na implantação da tecnologia para viabilizar o PIX, o custo final vai ser bem menor”, avalia.
Galotti pontua também que a expansão do uso do PIX deve partir dos próprios comerciantes. “Como o PIX vai gerar um custo menor, a tendência é que as empresas comecem a oferecer benefícios para quem usar, como os cashbacks”.
Como se cadastrar
Para se cadastrar, o usuário precisa vincular a chave PIX a uma conta bancária e a um dos três dados pessoais seguintes: telefone celular, e-mail ou CPF/CNPJ
Nesta primeira fase, pessoas e empresas vão poder registrar, alterar ou excluir as chaves. A previsão é que a plataforma comece a funcionar definitivamente e as funções de transferência sejam disponibilizadas ao usuário a partir de 3 de novembro em operação restrita e em 16 de novembro para toda a população.
Em vez de ter que digitar um série de dados na hora de fazer a transferência, como número do banco, agência, conta e CPF, com o PIX só será necessário digitar uma informação, que é a informação que o usuário usou para se cadastrar. Outra opção é gerar um QR Code para que o pagador possa escanear e imediatamente fazer o pagamento.