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Falta de contato com Guedes dificulta que base governista defenda pauta econômica, diz senadora Soraya Thronicke (PSL)

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A demora no andamento da agenda das reformas econômicas no Congresso tem gerado insegurança no mercado. Tanto a reforma tributária como a administrativa estão paradas enquanto, na avaliação de empresários, Paulo Guedes perde força. No Congresso, a avaliação é de que falta empenho do ministro da Economia na defesa das pautas liberais. É o que relata a senadora Soraya Thronicke (PSL-MS), que se define como aliada do presidente Jair Bolsonaro.

“Nós da base temos conseguido fazer com que a oposição desista de emendas e destaques e temos tido êxito. Os senadores têm trabalhado de forma muito unida. É um momento inédito. Mas quando estamos falando de economia, está faltando articulação”, avaliou a senadora em entrevista ao Brasilianista.

Saiba mais: 

Segundo Thronicke, a ausência de Guedes impede o trabalho da base aliada. Ela diz que os deputados sentem falta de informações técnicas para subsidiar sua defesa. “Precisamos convencer, mas nos faltam informações. Não sou criança, preciso saber da onde saíram os números, de onde o governo vai tirar os recursos para aplicar em outro lugar. Não estamos tendo a orientação técnica para articular com gente que quer saber”, defende.

Para ela, a falta de diálogo do Ministério da Economia com a própria base aliada ameaça a realização das reformas. “Nós estamos aguardando a reforma administrativa e a reforma tributária, mas essas propostas não vieram. Já estamos no meio do mandato do presidente”, lembra.

Confira a entrevista completa:


 

O Brasilianista: Temos visto que as pautas defendidas pelo Ministério da Economia estão paradas há meses no Congresso. Também temos a sessão de análise dos vetos, com a desoneração da folha de pagamento e a instalação da Comissão Mista do Orçamento que foi adiada. O que tem acontecido que está causando essa paralisia no Congresso?

Soraya Thronicke: Com muitos ministérios nós temos uma relação bastante fácil. É fundamental o bom relacionamento entre Executivo e Legislativo, um depende do outro. Infelizmente nos últimos tempos, eu vejo que existe uma relação difícil com alguns ministros. Alguns não. Sendo sincera, é uma questão com a Economia.

Se você for avaliar, o governo tem indicado muitas MPs. Nós votamos semanalmente e temos votado por unanimidade a maioria. Nós da base governista temos conseguido fazer com que a oposição desista de emendas e destaques. Os senadores têm trabalhado de forma muito unida. Então o governo tem tido apoio do Senado.

Esse momento é inédito. Mas quando estamos falando de economia, que é um assunto de extrema importância, acredito que está faltando articulação do Ministério da Economia. O ministro Ramos é o articulador do governo, mas em muitos temas ele precisa fazer também um ‘bem-casado’ como ministro Guedes porque precisamos de uma orientação técnica. Precisamos convencer, mas nos faltam informações. Não sou criança, preciso saber da onde saíram os números, de onde o governo vai tirar os recursos para aplicar em outro lugar. Não estamos tendo a orientação técnica para articular com gente que quer saber. O Senado é uma casa com menos parlamentares, então há maior discussão. Eu entendo que o Ministério da Economia precisa dar maior atenção para o Congresso, porque é vital a presença do ministro para que as coisas passem.

O Brasilianista: Esse é um dos fatores que estão travando o avanço das reformas? Faltam informações e análises do impacto financeiro?

Soraya Thronicke: Sim. Precisamos do impacto financeiro, mas precisamos entender. Igual aconteceu no veto 17. O ministro nos pediu que excetuássemos do congelamento aqueles servidores da segurança pública, da saúde e da educação que estejam na linha de frente do covid. Foi ele que pediu. Depois que votamos e derrubamos o veto, ele apareceu com um número, de que geraríamos um rombo de R$ 130 bilhões. Ele foi convidado a explicar isso no Senado e nunca apareceu. 

É algo que o Senado não admite. E a gente faz de tudo, evita uma convocação, mas precisamos entender os números. Precisamos da informação técnica. E não estamos tendo. É só o ministério colaborar que as pautas andam.

Já avisei ao governo que está muito difícil manter o veto da desoneração, inclusive pra mim. Eu conversei com representantes dos setores. A Associação Brasileira das Telecomunicações disse pra mim que está com mais de mil demissões prontas em São Paulo e não vai esperar primeiro de janeiro, vai demitir antes. 

Eu entrei em contato com o ministro Ramos e disse: não dá pra votar desse jeito. Ou o ministro Guedes senta conosco e nos explica e traz uma proposta estruturada ou não temos como defender. Nós estamos aguardando a reforma administrativa, e a reforma tributária que foram prometidas mas não vieram. E já estamos na metade do mandato do presidente.

O Brasilianista: O veto deve ser derrubado?

Soraya Thronicke: É bem possível. Precisamos de um acordo, mas é bem possível que derrubemos o veto. Eu quero crescimento na empregabilidade. Não podemos piorar a situação. E até agora Guedes não nos convenceu. Não é culpa de Bolsonaro. Isso é uma questão técnica delicada, que precisamos estudar. Até agora não temos subsídio para estudar e manter o veto. O que já estudamos é contra. Então não posso fazer isso com o país.

O Brasilianista: Alguns meses atrás Bolsonaro dava sinais de que poderia voltar para o PSL. Depois de um tempo esse assunto esfriou. O que aconteceu? Ainda há essa conversa?

Soraya Thronicke: Tudo tem seu tempo. As questões quando vêm a público elas já estão há algum tempo sendo amadurecidas nos bastidores. No meu estado, nós tivemos um segundo turno muito acirrado nas eleições para governador. Metade dos nossos eleitores iriam votar em um candidato e metade no outro. Então a orientação foi a gente não se envolver porque nós iríamos perder nossos apoiadores. Alguns tomaram partido na época e se deram mal porque os eleitores ficaram muito bravos. Então foi muito bom o PSL não se envolver naquele momento. E nessa eleição agora, está tudo muito dividido e o presidente tem eleitores de todos os lados. Acredito então que o melhor é analisar com calma e pensar em um partido depois das eleições.

Mas a relação está muito boa. O presidente sempre aceitou minha decisão de ficar no PSL. Alguns deputados que decidiram sair estão com problemas na justiça porque pediram a desfiliação e a justiça está considerando que não há justa causa. No meu caso, como senadora, o mandato é meu, e não do partido, ainda sim eu decidi ficar no PSL porque eu entendo que o problema que gerou o racha foi um problema de má orientação. Depois disso adotamos medidas rígidas de compliance. O partido também fez um trabalho de abertura das contas muito claro. Isso me deixa muito tranquila para trabalhar com o partido.

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