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Os complexos desafios na agenda de Doria

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O governador João Doria (PSDB) continua com dois grandes desafios na agenda: a pandemia do coronavírus, e seu grave impacto na economia de São Paulo (SP), e o relacionamento com a Polícia Militar (PM), que continua passando por momento de tensão.

Embora alguns municípios como a capital paulista tenham migrado para novas fases no chamado “Plano São Paulo”, podendo flexibilizar mais setores da atividade econômica, a quarentena no Estado foi ampliada até 14 de julho. É a 6ª vez em que a quarentena é prorrogada.

Na semana passada, SP registrou um novo recorde de diagnósticos confirmados em 24 horas. Foram quase dez mil novos casos e 207 mortes na última sexta-feira (26).

Este avanço da pandemia acaba limitando a retomada da economia e, consequentemente, aumenta a pressão do setor privado sobre os prefeitos e desses sobre o governador. Assim, no tema do coronavírus, João Doria precisa encontrar uma forma de gerenciar problemas tão complexos.

Do ponto de vista de sua imagem, Doria, perdeu parcialmente a narrativa de defesa da “saúde, da vida e da medicina”, que havia “se agarrado” nos primeiros meses da Covid-19. Embora essa narrativa continue presente, as flexibilizações do isolamento social têm sido muito criticadas por especialistas, enfraquecendo o posicionamento inicial de Doria.

Não bastasse isso, o relacionamento com a PM continua tenso. Durante as eleições de 2018 ao Palácio dos Bandeirantes, o governador João Doria (PSDB), logo após ser efeito, prometeu um duro combate à criminalidade por parte do Polícia Militar (PM) de São Paulo. Doria chegou a afirmar, naquela oportunidade, que “não seria uma boa opção em São Paulo enfrentar os policiais”.

Porém, nas últimas semanas, o discurso de Doria mudou na área da segurança pública diante do aumento da violência policial no Estado.

Na semana passada, Doria anunciou que os policiais envolvidos na ação violenta serão afastados e que o corpo policial passará por um novo treinamento sobre abordagens a suspeitos.

Segundo Doria, o programa “Retreinar” terá início no quartel do comando geral da PM a partir de julho e depois será implantado na Academia da Polícia Militar do Barro Branco. De acordo com o governador, inicialmente o programa terá foco nos policiais de altas patentes.

A mudança de tom por parte de João Doria pode ser atribuída ao afastamento em relação ao presidente Jair Bolsonaro, que possui uma grande simpatia junto as tropas das policiais militares.

Além de Doria ter perdido o apoio junto aos policiais que tinha em 2018 e 2019, a intervenção em decisões técnicas da administração da PM, segundo a cúpula da segurança pública, também tem provocado uma crise do governador com a corporação.

Neste cenário temos ainda a bancada da bala na Assembleia Legislativa, que composta sobretudo pela ala bolsonarista do PSL, tem uma postura muito crítica em relação a Doria.

Em meio a rumores da politização das ações da PM, a Secretaria de Segurança Pública divulgou nota na semana passada afirmando que “o compromisso das forças de segurança é com a vida, razão pela qual medidas para a redução de mortes são permanentemente estudadas e implementadas”.

O conflito entre Doria e a PM vêm ocorrendo após uma série de casos de violência policial, sobretudo nas periferias das capitais paulistas e em atos políticos contra movimentos críticos de Bolsonaro.

Vale ressaltar que oficiais da PM observar que, desde o ano passado, houve uma diminuição no número de policiais de posição hierárquica superior em funções de supervisão no policiamento de rua. Essa seria a principal razão para que os policiais militares tenham passado a atuar “sem freios”, resultando em emprego desmedido de força nas abordagens.

Entretanto, as declarações públicas frequentes de Bolsonaro referendando ações duras na segurança pública surtiriam efeito catalisador na tropa, que enxerga no presidente uma liderança que não é reconhecida em Doria. Assim, o presidente é visto como um símbolo.

Porém, a simpatia de policiais militares por Jair Bolsonaro, explícita nas redes sociais e mais recentemente também no mundo real, representa mais uma ameaça de ordem política para Doria do que risco de insubordinação.

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