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Poderes trabalham para distensionar crise

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A tentativa de diálogo entre o presidente da República, Jair Bolsonaro, e o presidente da Câmara, deputado Rodrigo Maia (DEM-RJ), representa um importante passo para baixar a temperatura da crise política causada pelos recentes embates do Palácio do Planalto com o Congresso e o Supremo Tribunal Federal (STF).

Outro gesto nesse sentido vem sendo feito pelo vice-presidente, Hamilton Mourão. Num dos recados enviados ao STF – acusado pelo governo de interferir nos assuntos políticos –, Mourão afirmou que “cada um sabe o tamanho da sua cadeira”. Na quinta-feira (14), no artigo “Limites e responsabilidades”, publicado no Estadão, ele criticou os governadores, os magistrados e o Legislativo por “esquecerem que o Brasil não é uma confederação, mas uma federação” e pediu “sensibilidade das mais altas autoridades do país”.

Apesar de tais movimentos, o agravamento da pandemia do coronavírus e da crise econômica piora a tensão entre o presidente e os governadores. O confronto deverá ser mais intenso em relação aos governadores de São Paulo, João Doria (PSDB), e do Rio de Janeiro, Wilson Witzel (PSC), estados com maior número de contaminados e de mortos pela Covid-19. Além da extensão da quarentena até o final de maio, Witzel e Doria não descartam a decretação do “lockdown” devido ao cenário de pré-colapso na saúde.

Reduzir os casos de contaminação pelo novo coronavírus é a prioridade de Doria, de Witzel e dos demais governadores e prefeitos. Afinal de contas, as vítimas acabam falecendo nas instituições estaduais e municipais. Se a doença não for contida, há o risco de os enterros começarem a ser feitos em valas comuns, conforme já ocorre em Manaus.

Se, por um lado, as medidas restritivas de circulação podem colaborar para que governadores e prefeitos minimizem o impacto da pandemia, por outro, tais medidas ampliam o conflito com o presidente. Isso porque Bolsonaro, embora preste solidariedade às vítimas, age no sentido de descolar sua imagem do novo coronavírus, focando a sua narrativa na tentativa de recuperação imediata da economia.

Como o isolamento social e o “lockdown” agravam a recessão econômica, Bolsonaro abraçou a defesa da economia também como forma de minimizar os danos da chamada “segunda onda”. O presidente sabe que, ainda que as medidas restritivas adotadas por governadores e prefeitos sejam importantes, quem terá de “pagar a conta” do colapso econômico na pós-pandemia será a União.

É por isso que, em suas manifestações, ele defende constantemente a reabertura da economia, indicando que os trabalhadores informais são sua maior preocupação. A “segunda onda”, porém, também trará problemas para os governadores e prefeitos, já que estados e municípios terão de enfrentar uma forte queda de arrecadação, comprometendo a capacidade de honrar os pagamentos da folha dos servidores e dos fornecedores.

Em dificuldades financeiras, pressionados por um lado pela pandemia e, no lado oposto, por Bolsonaro, a aliança informal construída entre os governadores pode ganhar força política, já que apenas unidos eles poderão pressionar Brasília por mais recursos. Esse embate, que tem a narrativa “isolamento social x economia” como item principal, gera uma guerra de discursos que alimenta a polarização.

Conforme o cenário envolvendo pandemia e recessão econômica for se tornando mais complexo, a tendência é que a queda de braço entre o presidente e os governadores se intensifique. Sobretudo em relação a Doria e Witzel, que, além de governarem os dois maiores estados do país, têm, como Bolsonaro, pretensões eleitorais em 2022. Não por acaso, sem citar Doria, Bolsonaro declarou, numa videoconferência realizada pela Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp), que “um homem está decidindo o futuro de São Paulo, decidindo o futuro da economia do Brasil”.

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