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A demissão de Alvim

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Política
 A demissão do secretário nacional de Cultura, Roberto Alvim (17/01), após reproduzir um discurso de Joseph Goebbels, ministro da Propaganda da Alemanha nazista, é consequência de mais uma “trapalhada” envolvendo um integrante do governo Jair Bolsonaro. “A arte brasileira da próxima década será heróica e será nacional. Será dotada de grande capacidade de envolvimento emocional e será igualmente imperativa, posto que profundamente vinculada às aspirações urgentes de nosso povo, ou então não será nada”, diz Alvim em vídeo.

Logo após a manifestação do secretário, houve forte repercussão negativa na imprensa, nas redes sociais e entre as mais diferentes forças políticas e sociais. O presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), e o presidente do Senado, Davi Alcolumbre (DEM-AP), por exemplo, pediram publicamente a demissão de Alvim. Também o presidente do Supremo Tribunal Federal (STF), Dias Toffoli, condenou as declarações do secretário.

Além deles, não apenas as forças de oposição, mas também os aliados de primeira hora de Bolsonaro, como a comunidade judaica, foram contundentes no repúdio ao discurso de Alvim. Horas depois de colher imenso desgaste, Bolsonaro exonerou Alvim. Através de sua conta no Twitter, condenou as ideologias totalitárias e reafirmou apoio irrestrito à comunidade judaica.

Como Alvim foi demitido com celeridade, a tendência é que, com o passar dos dias, o desgaste em torno da imagem presidencial seja minimizada. O fato, porém, deu munição para a oposição tentar rotular Bolsonaro como adepto de ideologias totalitárias de extrema direita.

A referência realizada por Alvim a Goebbels também serviu para fortalecer a unidade da classe cultural e artística contra o governo. Nas horas posteriores à declaração do então secretário, houve uma avalanche de críticas às políticas culturais de viés conservador implementadas pelo Palácio do Planalto que já vinham sendo alvo de questionamentos há algum tempo.

Como forma de neutralizar tais críticas, Bolsonaro convidou a atriz Regina Duarte para assumir a Secretaria. Caso aceite, ela poderá quebrar parte das resistências existentes no meio artístico ao presidente. Também pode minimizar a postura negativa da Rede Globo em relação ao governo, já que a atriz é vinculada à emissora.

De médio a longo prazo, no entanto, a escolha de Regina Duarte pode trazer dificuldades políticas. Como o meio artístico e cultural abraça uma posição de esquerda e a base social de Bolsonaro é conservadora, embates tendem a ocorrer. Aliás, mesmo antes de ser escolhida, posicionamentos progressistas da atriz já depreciados nas redes sociais.

O episódio pode respingar no ministro da Economia, Paulo Guedes, durante sua passagem pelo Fórum Econômico Mundial, em Davos, na Suíça, na próxima semana. Embora não ocorra contaminação na agenda de reformas, a repercussão internacional do episódio pode levar o ministro a ser questionado novamente no exterior sobre o “grau de compromisso do governo com os valores democráticos”.

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